Num depoimento por escrito, pedido pela agência Lusa, o antigo Presidente recordou como, há duas décadas, o euro “protagonizou uma verdadeira, mas tranquila, revolução financeira”, e as crises que a moeda única atravessou, incluindo a da “dívida pública”, em 2009.

Jorge Sampaio referiu-se às vantagens, mas também às consequências negativas da “tranquila revolução financeira”.

“Fruto de uma decisão institucional e de um projeto político voluntarista, o euro, expressão concreta do aprofundamento da integração europeia, tornou-se a moeda de referência do continente, utilizada por 340 milhões de cidadãos em 19 Estados membros”, argumentou.

Além de “muitos outros países e territórios terem moedas de câmbio fixo em relação ao euro", este é "a segunda maior moeda de reserva e a segunda mais transacionada no mundo”.

O euro foi, em Portugal, “fator de integração económica e financeira” e, externamente, “vetor de afirmação internacional da Europa como força económica, comercial e financeira”, atravessando “crises e inúmeros desafios, riscos e ameaças”, descreveu.

Primeiro, foi a “crise financeira internacional de 2008” e, uns anos depois, em 2009, “a crise da dívida pública da zona euro, que teve um impacto especialmente sério e gravoso nos países do sul” da Europa.

Essa crise, acrescentou, “afinal, veio pôr a nu todas as insuficiências e lacunas da União Económica e Monetária, revelando a necessidade premente de aprofundar a sua arquitetura e completar a União Bancária”.

A “atual lentidão – ou mesmo quase paralisia -, na realização destas reformas, é preocupante”, devido a “razões negativas” que depois Jorge Sampaio enumerou.

O “calendário europeu é adverso”, dado que as eleições europeias de maio do próximo ano “poderão ditar uma alteração significativa de rumo do projeto europeu”, e “porque não há na Europa atualmente nem um consenso forte nem lideranças políticas claras".

Em terceiro lugar, “o contexto internacional é hostil, marcado por um conjunto de ameaças, riscos e incertezas e por uma assinalável recomposição de forças, interesses e alianças” e, por último, “porque a proliferação das tendências populistas de expressão identitária e nacionalista constitui terreno minado e estéril para o fortalecimento do multilateralismo, da solidariedade e dos valores democráticos, sem os quais o projeto europeu não poderá nunca singrar”.

Olhando para Portugal, o ex-líder do PS e antigo presidente da Câmara de Lisboa, nos anos 1980 e 1990, afirmou não ter dúvidas que “importa, como importou em 1999, estar na linha da frente do aprofundamento da construção europeia”.

Jorge Sampaio aborda depois o que, na sua opinião, o euro trouxe de bom e de mau ao país.

“A adesão ao euro trouxe aos portugueses maior controlo da inflação, uma descida brutal das taxas de juro e estabilidade nas trocas comerciais de que resultaram condições únicas de crescimento económico”, exemplificou.

“Ao invés, sabemos bem os pesados custos – económicos e sociais – das políticas de austeridade resultantes da aplicação cega das regras orçamentais do euro que poderiam ter sido minorados, existissem mecanismos de estabilização europeus quando eclodiu a crise do euro”, acrescentou.

“Esta dura experiência”, avisou, “torna por demais evidente, a necessidade e a urgência de se proceder à reforma da zona euro para que este passe a ser o coração vibrante da Europa como espaço de prosperidade partilhada, fermento de unidade entre os cidadãos europeus e vetor de afirmação internacional”.

Em 01 de janeiro de 2019, celebram-se vinte anos do lançamento do euro, quando se tornou a divisa de mais de 300 milhões de europeus, e hoje é a moeda oficial de 19 países, entre os quais Portugal.

A entrada em circulação do euro, em moedas e notas, só aconteceu dois anos depois, em 2002.

Jorge Sampaio, 79 anos, nasceu em Lisboa em 1939, formou-se Direito na Faculdade de Direito de Lisboa e foi um dos protagonistas da chamada crise académica de 1960-61, que abalou a ditadura que só seria derrubada treze anos depois, no 25 de Abril de 1974.

Após a revolução pertenceu ao Movimento de Esquerda Socialista (MES) e, mais tarde, aderiu ao PS, foi deputado eleito por Lisboa e secretário-geral do partido, de 1989 a 1991.

Em 1989, foi eleito, à frente de uma coligação de esquerda, presidente da câmara de Lisboa, de onde saiu para se candidatar, em 1996, a Presidente da República, cargo que desempenhou até 2006.

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