Alexandre Fonseca diz que já não será possível lançar o 5G no mercado em 2021. Com o processo do leilão ainda a decorrer, o presidente do conselho de administração da Altice Portugal admite que estão "prontos há mais de um ano" para lançar o serviço. As críticas? Vão para a Anacom.

Para pôr a conversa em termos "rigorosos", Alexandre Fonseca lembra que "o processo do leilão [das frequências do 5G] não terminou; e não terminou por dois motivos: primeiro, porque o processo de leilão só termina quando forem atribuídos os direitos de utilização de frequências que permitem começarmos a operar. Mas o leilão não terminou porque eu continuo a aguardar que sejam respondidas, pelo menos, uma de duas perguntas muito importantes: a primeira é que foi leiloada uma quantidade de espectro, que não foi todo atribuído no leilão, sobrou espectro", diz Alexandre Fonseca, que falou aos jornalistas esta quarta-feira no Porto.

"Aquilo que me espanta é que depois de um ano de leilão, continue a sobrar espectro, nomeadamente nos 700 megahertz", afirma. "Não sei qual é a ideia do regulador [Anacom], que também não disse a ninguém se o iria dar, leiloá-lo, atribuí-lo de uma forma criativa..."

A segunda questão, diz, tem a ver a "passadeira vermelha" da Anacom a novos intervenientes no mercado: "Aqueles que, levados ao colo pelo o regulador no processo de leilão, tiveram o cuidado de não assumir um único compromisso com Portugal", acusa o líder da Altice, referindo que os novos players "compraram as suas licenças, mas até à quantidade suficiente para não terem obrigações de cobertura."

"O que é que o regulador tem a dizer sobre estes novos entrantes não terem assumido qualquer compromisso com o país?", questiona.

Do lado da empresa, Alexandre Fonseca diz que a MEO e a Altice Empresas "estão preparadas para, no primeiro dia em que for possível comercializar o serviço, apresentarem as suas ofertas". Oferta essa, acrescenta, que "já começou a ser comercializada há alguns meses", havendo clientes inscritos, num universo de cerca de 300 mil com capacidade de usar o 5G.

"As pessoas irão aderir no momento em que em que a tecnologia estiver disponível", acrescenta João Epifânio, responsavel de vendas da Altice Portugal."Nós lançámos a nossa primeira campanha 5G em janeiro de 2021, com uma lógica de pré-inscrição", acrescenta.

João Epifânio descreve mesmo o leilão como "um terror", que "terá custos para o país, terá custos para os utilizadores e terá custos para as empresas", estimando que o processo tenha atrasado Portugal num ano, face ao que acontece noutros países.

Do ponto de vista do negócio, adianta Alexandre Fonseca, não é "economicamente viável" lançar a oferta do 5G ainda este ano. "Se a Anacom atribuir os direitos de utilização no dia 22 ou 23 de dezembro, não passa pela cabeça de ninguém que a prioridade dos portugueses nesses dias seja ativar os serviços 5G", acrescenta.

"Portanto, parece me que, independentemente de o processo administrativo poder estar concluído nos últimos dias de dezembro, o 5G em Portugal vai ser uma realidade em janeiro de 2022."

O presidente-executivo da Altice Portugal criticou também que o dinheiro arrecadado com o leilão dos direitos das frequências do 5G tenha como destino previsto estradas de betão e não as "autoestradas do futuro".

"Uma parte do dinheiro dos mais de 500 milhões de euros que foram angariados com o ultra-longo e desarticulado leilão do 5G será canalizado não para o apoio à transição digital, ao desenvolvimento das competências digitais, ao combate à exclusão, mas para a construção de autoestradas físicas, num conjunto de locais do país."

"O que posso dizer é que o que saiu na comunicação social", admite Alexandre Fonseca, lembrando informações, já de maio, de que o governo vai usar as verbas do leilão para atribuição das frequências do 5G para financiar a construção de estradas que ficaram de fora do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

"As autoestradas físicas continuarão porventura a ser necessárias, aquilo que nós dizemos é que a nossa visão desde há alguns anos a esta parte é que as autoestradas que são importantes hoje não são as de asfalto, são as autoestradas da informação, aquelas que nós temos construído, aqueles que permitem às jovens em Seia, em Gouveia, em Manteigas, no sopé da Serra da Estrela montarem o seu negócio e estarem ligados a Nova Iorque Londres ou Xangai", defende.

"Choca-me sempre quando vemos serem canalizados fundos que foram originados num leilão de tecnologia para construção destas autoestradas de asfalto e de betão", conclui.

Mil freguesias com fibra em 2022

Para além do 5G, Alexandre Fonseca quer que no início do próximo ano seja possível ter mil freguesias de Portugal ligadas por fibra ótica. "Mil freguesias significa um terço das freguesias portuguesas servidas exclusivamente com tecnologia de fibra, onde a totalidade da população poderá escolher esses serviços de fibra."

Assim, acrescentou o responsável da Altice Portugal, é possível "o desligamento das redes de cobre". Trata-se, então, de "um marco importante porque mostra a capilaridade com que temos vindo a fazer o nosso investimento fibra ótica, que hoje está presente nos 308 concelhos do país e que chega também já, nestas mil freguesias, a 100 por cento da população."

As primeiras dez freguesias do país 100% fibra foram anunciadas em 2019, mas "hoje o marco que atingimos são seis milhões de lares e de empresas portuguesas. Isto significa cerca de 90 por cento das casas", disse Fonseca, destacando "a diferença" entre a rede da Altice e a de outros operadores: "temos a maior, a mais moderna e acima de tudo a mais capilar rede fibra ótica do nosso país."

Há seis anos na administração da empresa, Alexandre Fonseca diz que a aposta na fibra veio desde o princípio: "muitos em 2015, 2016 questionaram 'mas porquê esta obsessão com a fibra óptica; porque cobrir o país todo, de norte, a sul, à ilha do Corvo, à ilha do Porto Santo, porquê levar a fibra óptica a todo o país?' Aqueles que tinham dúvidas perceberam isso em 2020, quando todos foram chamados a ir para casa trabalhar, estudar e comunicar e conviver através da comunicação digital, da internet e das redes. Percebemos essa importância e foi por isso que nós estávamos preparados", assume.

"Aliás, Portugal estava preparado. O confinamento teve também sucesso em boa parte por terem sido criadas as condições para que as pessoas pudessem desenvolver a sua vida digital. Não foi assim em todos os países europeus, houve países com verdadeiros apagões das redes de comunicação e em Portugal isso não aconteceu."

Durante o confinamento, houve "dias consecutivos com 200 por cento de crescimento do tráfego nas nossas redes fixas em particular; até o velhinho telefone fixo lá de casa cresceu em 80 por cento na sua utilização", acrescenta o líder da Altice Portugal, que falava aos jornalistas na apresentação da nova loja da MEO, a maior do país, na Rotunda da Boavista, no Porto.

450 metros quadrados de nova geração

Vista do rebuliço da rotunda da Boavista, a nova loja MEO, encaixada no Brasília, não denuncia que na verdade não é mais uma loja. João Epifânio, o responsável pelas vendas da Altice Portugal, prefere chamar-lhe "espaço".

Os 450 metros quadrados do maior espaço de vendas da MEO não tem balcões, convidando os clientes a encontrarem-se com os trabalhadores da empresa para esclarecer dúvidas ou comprar alguma coisa, seja dos expositores da MEO, seja da pop-up store, uma loja temporária cuja temática se quer a variar.

"Este é um novo conceito que começamos a implementar em 2016 e que ao longo dos últimos cinco anos já ronda um investimento na casa dos 20 milhões de euros", explica João Epifânio. "Naturalmente, uma parte significativa no norte do país, mais de um terço desse valor é aqui na zona metropolitana de Porto."

Porém, as lojas são só aquilo que se vê: o investimento vai mais longe: "é todo o espaço; é ao nível das plataformas informáticas; é um de investimento que temos vindo a fazer a inovação, em serviços", diz ainda.

A loja renovada "está num local absolutamente emblemático da cidade", num Porto onde a Altice tem "ambições de crescimento", conta João Epifânio.

"Por isso decidimos investir e criar aqui um espaço diferenciado não só pela dimensão mas por todas as experiências que podem ser vividas, com a experiência da nossa identidade muito sensorial. "

Há a música, há a fragrância e há até uma mistura (blend) de café que pode ser experimentado no piso superior do espaço no Porto, onde está a zona dedicada à Altice Empresas. Para além do café, há ainda gelados, numa parceria com a casa de Cascais Santini.

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