“Decidi constituir um fundo de estabilização para evitar que os aumentos dos preços internacionais cheguem aos argentinos. Instruí os meus ministros para que tomem as medidas necessárias para enfrentar a inflação. A nossa batalha é contra os especuladores, contra os gananciosos”, anunciou Alberto Fernández, através de uma mensagem divulgada na rádio e televisão públicas.
O Presidente avisou que, a partir de segunda-feira, vai convocar todos os agentes económicos, desde empresários a comerciantes, passando por trabalhadores e produtores agrícolas.
Os preços ao consumidor aumentaram 52,3% nos últimos 12 meses.
“Confiamos em acordos que ajudem a baixar a inflação e a garantir o aumento do poder de compra dos salários”, indicou Fernández, sem especificar nenhuma medida concreta.
“Não vamos deixar de controlar e de fiscalizar os preços e de aplicar a lei de abastecimento, se for necessário”, advertiu, referindo-se a uma lei que permite intervir em empresas, confiscar mercadorias, obrigar à produção de determinadas quantidades, além de estabelecer preços e margens de lucro.
“Estamos numa situação extraordinária que requer soluções extraordinárias. Precisamos de lutadores contra a especulação e contra a inflação em cada comércio, em cada mesa, em cada casa”, disse Fernández.
Nesta semana, o Governo revelou que os preços ao consumidor aumentaram 4,7% em fevereiro, dando a Argentina a maior taxa de inflação do continente americano, à frente, inclusive, da Venezuela, com 2,9%.
O aumento dos alimentos chegou a 7,5% em fevereiro e a cesta básica tornou-se 9% mais cara, indicando que a inflação afeta sobretudo os mais pobres.
Nos primeiros dois meses do ano, a inflação na Argentina soma 8,8% e deve superar os 14% no trimestre, se as projeções para março, acima de 5%, estiverem corretas.
Os números indicam que a inflação já tinha acelerado, antes da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro. A guerra reforçou a tendência, apesar dos controlos de câmbio e de preços e do congelamento de tarifas na Argentina.
“Seria um absurdo culpar a guerra pela nossa inflação, mas está a incidir negativamente, aumentando os problemas. O contexto internacional complica ainda mais as coisas. A inflação é um sério problema e a guerra agrava-o”, alertou Alberto Fernández.
A Argentina tem uma população de 45 milhões de habitantes, mas produz alimentos para 450 milhões, sobretudo grãos, cereais e carnes. O país era autossuficiente em energia, mas, devido ao congelamento de tarifas, passou a deficitário, tendo de importar gás natural e petróleo. O aumento no preço dos bens agrícolas provocado pela guerra não tem compensado o défice gerado pelo aumento nos combustíveis.
“Nós produzimos muitos alimentos, mas a formação de preços não depende de nós. Formam-se nos mercados internacionais, cujos valores pressionam os preços internos. As suas consequências já estão na Argentina”, explicou o Presidente, destacando “o aumento de 300 a 400 dólares [270 a 360 euros] na tonelada de trigo com consequências nos preços do pão, das massas e da farinha”.
Durante a semana, Fernández tinha prometido medidas económicas no que chamou de “guerra contra a inflação” na Argentina. O anúncio surgiu após o Parlamento ter aprovado, na noite de quinta-feira, um acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional.
O Presidente considera que “o acordo com o FMI permite começar a ordenar as variáveis macroeconómicas centrais na luta contra a inflação”.
“É o ponto de partida para acalmar as expectativas de desvalorização que só aceleram a inflação”, concluiu.
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