Augusto Santos Silva falava na Assembleia da República, em plenário, a meio de um debate agendado pelo PS sobre políticas para a internacionalização da economia portuguesa.

Numa intervenção anterior, o deputado do PSD Virgílio Macedo tinha afirmado que o primeiro ano do atual Governo se caraterizou por uma aposta "errada" no investimento público e no consumo interno, tendo agora "emendado o caminho" com o regresso a um modelo baseado nas exportações.

"Entretanto, o país perdeu um ano de crescimento económico", criticou Virgílio Macedo, numa alusão ao resultado do crescimento económico verificado em 2016.

O ministro dos Negócios Estrangeiros respondeu pouco depois, sustentando que os atuais resultados da economia portuguesa têm subjacentes novas políticas face à linha seguida pelo executivo liderado por Pedro Passos Coelho.

"Este Governo fez assentar os nossos fatores de competitividade internacional não em baixos salários, mas, sim, em inovação, qualificação, em gestão e recursos. Essa é a aliás a principal diferença da política de internacionalização do atual Governo face à política do anterior", declarou, recebendo palmas da bancada socialista

Mas Augusto Santos Silva referiu-se ainda a outras duas mudanças que considerou de fundo na política económica nacional, dizendo que o atual executivo apostou numa combinação diferente de políticas.

"Este Governo entende que é necessário, possível e produtiva a combinação entre o estímulo da procura interna e o da procura externa. Não se trata de contrapor dois instrumentos essenciais que são harmonizáveis entre si ao nível da política económica", salientou, numa mensagem dirigida à bancada do PSD.

Ainda de acordo com Augusto Santos Silva, o atual Governo, ao contrário do anterior, "combinou uma política de rigor e de consolidação em matéria financeira e orçamental com uma política económica e social em benefício dos trabalhadores, das famílias, das pessoas e das empresas".

"Os resultados obtidos mostram a justeza e o alcance dos dois princípios que referi", completou.

Numa lógica diferente em termos de críticas ao Governo, o deputado do PCP Bruno Dias considerou que os sucessivos programas de internacionalização da economia portuguesa adotados por parte de diversos governos se traduziram num fracasso, com "perda de fundos públicos e de receitas fiscais" para o Estado Português.

Usando a ironia, Bruno Dias disse que a economia portuguesa já está internacionalizada, já que os setores chave se encontram "nas mãos do grande capital estrangeiro".

Para o efeito, o deputado comunista apontou "os casos concretos" da Cimpor, dos CTT, da ANA - Aeroportos de Portugal e da EDP.

Tal como Bruno Dias, também o deputado do Bloco de Esquerda Ernesto Ferras exigiu maior apoio do Governo ao setor produtivo nacional, em particular às pequenas e médias empresas, e advertiu que a internacionalização da economia portuguesa "não pode ser feita contra os direitos dos trabalhadores".

O deputado do PAN André Silva defendeu que o Governo deverá conceder novos estímulos ao setor agroalimentar biológico, tal como acontece em outros países da Europa do sul - uma política que o vice-presidente da bancada socialista Carlos Pereira disse já estar a ser seguida pelo executivo.

Na sua intervenção, Carlos Pereira referiu que em 2017 as exportações cresceram oito por cento, "mas, sobretudo, aumentaram as quotas de mercado, o que revela que a economia portuguesa está a ganhar competitividade".

"Noutro plano do processo de internacionalização, o peso do investimento direto estrangeiro também apresentou valores recorde em 2017", apontou, antes de deixar um aviso ao Governo.

O vice-presidente da bancada do PS observou então que "74% do comércio internacional português realiza-se dentro da União Europeia e apenas três mercados representam 45% das exportações".

Ou seja, segundo Carlos Pereira, Portugal tem de diversificar os seus mercados, porque "há fatores de risco e fragilidades que devem ser alvo de combate".