“A EDP lança a primeira barragem 5G na Península Ibérica e é também um Living Lab, um laboratório vivo em que esta cobertura total por rede 5G desta instalação vai estar disponível para testarmos um conjunto de casos de uso industriais numa escala real, a partir do qual vamos tirar conclusões sobre como é que o 5G pode ser mais explorado, em particular, para a energia”, explica à Lusa Joana Freitas, administradora da EDP Geração, no local.
“Tanto quanto sabemos, é não só primeira vez em Portugal, na Península Ibérica, na Europa, no mundo e até no universo”, afirma, por sua vez, Henrique Fonseca, administrador da unidade de negócios empresariais da Vodafone Portugal.
“Nós, Vodafone, operamos redes 5G há mais de cinco anos em mais de 20 países, temos mais de 40 parceiros com quem colaboramos espalhados por esse mundo fora e não temos conhecimento de nenhuma outra barragem 5G com estas capacidades”, assevera o administrador, que refere que a EDP tinha lançado “o desafio de criar um laboratório vivo onde pudessem testar numa série de casos práticos para poderem ver a vantagem de determinadas tecnologias aplicadas ao seu negócio”.
Perante isso, a Vodafone instalou a rede 5G na barragem de Castelo do Bode, concelho de Tomar, que permite “não só ter mais velocidade, comunicações instantâneas e capacidade de gerir um sem número” de dispositivos, mas também “disponibilizar alguns casos de estudo que através da rede 5G podem potenciar a transição digital e ganhos de eficiência para a EDP”, sintetiza o administrador.
Com a rede instalada, a “partir de hoje” a EDP vai “testar vários casos de uso”, entre os quais “como é que se pode fazer uma assistência remota utilizando facilidades do 5G de comunicação em tempo real, de baixa latência, de uma forte conectividade” dos equipamentos”, prossegue Joana Freitas.
Isso inclui testar ‘vídeo analytics’, “como é que usamos informação em vídeo com modelos analíticos que nos permitem avaliar parâmetros da operação, a utilização também de drones, de robôs, portanto, múltiplos casos industriais que tiram partido desta conectividade e esta capacidade de comunicação” imediata, rápida e com “muito menor latência que nos permite uma maior proximidade entre a causa e o efeito das operações que se realizam aqui”, acrescenta a administradora.
A barragem de Castelo do Bode começou a operar em 1951 e “é uma das barragens históricas do grupo EDP e do país e é precisamente aqui que se está a instalar um projeto altamente inovador que nos dá também uma ideia desta continuidade dos ativos hidroelétricos no tempo e da sua capacidade de se irem inovando”, sublinha Joana Freitas.
As barragens são essencialmente operadas de forma remota, conta a administradora, sendo que na de Castelo do Bode trabalha uma equipa “relativamente pequena” de sete pessoas que trabalha com o suporte das equipas transversais da Direção Tejo-Mondego e da Direção de Otimização de Ativos Hídricos, maioritariamente técnicos de mecânica e eletricistas.
“Temos aqui também pessoas que estão muito abertas a estas novas ferramentas e à tecnologia e, portanto, é encontrarmos aqui um campo excelente para dotar estas pessoas de novas ferramentas que lhes permitam fazer o trabalho de forma mais segura”, diz, apontando aplicações “que permitem aos trabalhadores que estão a fazer intervenções em espaços confinados” e “sozinhos poderem dar sinais de alerta forma imediata se tiverem alguma situação de insegurança”, exemplifica.
Quanto ao investimento, a administradora aponta para “cerca de 200 mil euros: Estamos a falar de um ambiente de teste, trata-se de um piloto, estamos a falar de um espaço que vamos usar para pilotar em ambiente industrial real estas soluções e testar também as suas vantagens tecnológicas, financeiras e avaliar se terá essa potencialidade para um ‘roll out’ mais alargado a outras instalações e outros casos de negócio”.
A tecnologia permite “trabalhar de forma mais segura, mais eficiente, muitas vezes também eliminando a necessidade de intervenção humana em inspeções, utilizando robôs, drones”, o que aumenta a eficiência.
Sobre o desafio de instalar o 5G numa barragem, Henrique Fonseca admite “uma série de constrangimentos e desafios técnicos que se levantaram em relação aos campos eletromagnéticos, à água, aos materiais que fazem parte de uma barragem”, mas tudo isso foi ultrapassado e hoje vê-se “como é possível numa barragem ter uma velocidade de 1.4 gigabits por segundo”.
O grupo Vodafone ainda não tinha “tido uma experiência numa barragem e portanto nós, Vodafone Portugal, com o conhecimento e experiência que estamos aqui a ganhar hoje também, juntamente com a EDP, vamos poder ajudar outros colegas nossos de outros países para poderem fazer isto”, salienta, “tal como a EDP, que está presente em 30 países, [e] pode também vir a expandir isto não só para as restantes barragens em Portugal […], como também para o resto dos países onde opera”.
A implementação durou cerca de três meses e envolveu “mais de 10 pessoas” da Vodafone.
“Este exemplo que estamos aqui a ver hoje é algo muito concreto: uma instalação industrial a utilizar um projeto de cobertura 5G que vai permitir-nos um conjunto de experiências de nível de eficiência energética, de robotização, da operação remota que consideramos serem importantes neste caminho da transição energética”, remata Joana Freitas.
O projeto-piloto arrancou formalmente em 04 de abril e a parceria com a Vodafone prevê que os serviços de comunicações que suportam o Living Lab se mantenham ao longo de 36 meses (três anos).
A Central Hidroelétrica de Castelo do Bode começou a ser construída em 1946 e entrou em operação em 1951 (há 73 anos).
A albufeira estende-se ao longo de 60 quilómetros, cobre 3.300 hectares e é a maior reserva nacional de água para consumo, abastecendo os habitantes na área de Lisboa e concelhos vizinhos.
De betão, tem 115 metros de altura e um coroamento com 402 metros de comprimento. Com três grupos geradores, tem uma potência instalada de 159 megawatts (MW) e no último ano produziu mais de 105 GW/h.
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