De acordo com uma análise da agência de informação financeira Bloomberg, que passa em revista os acontecimentos políticos dos últimos meses no que diz respeito à saída do Reino Unido da União Europeia, "os líderes europeus estão a olhar para um Reino Unido onde os principais ministros discordam publicamente sobre os objetivos e as táticas" e em que "erros básicos e tropeções acrescentam a impressão de um país mergulhado no caos".

"Os nossos amigos estão preocupados, e os países menos amigos estão confusos e espantados, porque a grande máquina britânica, conhecida mundialmente pela sua eficiência, parece estar altamente desorganizada", comentou o diretor do Centro para a Reforma Europeia.

Charles Grant explicou que o Reino Unido "nunca teve menos credibilidade do que agora em termos de competência, da sua capacidade para se organizar, e da sua capacidade de pensamento estratégico e de influenciar tudo".

A imagem do país pode ser confusa para os estrangeiros, mas olhando mais de perto percebe-se melhor, escreve a Bloomberg, notando que os líderes britânicos "foram apanhados em dois erros políticos crassos em apenas um ano".

Em causa está a proposta de referendo apresentada pelo antigo primeiro-ministro David Cameron, que supostamente devia resolver a questão europeia e silenciar os dissidentes do seu Partido Conservador, "mas em vez disso obrigou Cameron a sair do Governo quando a sua aposta fez ricochete e o país votou mesmo para sair da UE", acrescenta o artigo da Bloomberg.

May chegou-se à frente como seu sucessor e fez a sua própria aposta, convocando uma eleição geral repentina para aumentar a sua maioria no Parlamento, mas acabou por ficar em minoria parlamentar e colocou o seu próprio emprego em risco.

Entre os erros políticos e as 'gaffes', a Bloomberg salienta a publicação da lei que define a saída da UE, que foi acidentalmente publicada na internet antes de ser apresentada aos deputados, e o engano no destinatário de um telefonema de David Davis, o secretário britânico para o 'Brexit'.

"Em março, segundo responsáveis da UE e do Reino Unido, quando telefonou a Timo Soini, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Finlândia e um crítico europeu, Davis anunciou ao telefone em termos entusiastas que o ‘Brexit’ tinha começado, e que necessitava do apoio da Finlândia para conseguir um bom acordo da UE", escreve a Bloomberg.

"Só quando ouviu a voz do outro lado do telefone é que Davis percebeu que na verdade estava a falar com Michel Barnier, o principal negociador da UE, naquela que foi a segunda vez que os dois políticos falaram desde que Davis ocupou este cargo", acrescenta a agência de notícias de informação financeira.

Num comentário à situação atual, a porta-voz do Partido Trabalhista para as questões externas, Emily Thornberry, resumiu: "Temos um secretário de Estado inventando as coisas à medida que é preciso, um ministro para o ‘Brexit’ tão habituado a contrariar os seus colegas que começou a contrariar-se a si próprio, e temos uma primeira-ministra tão vazia de ideias que começou a meter caixas de sugestões no Parlamento".

A notícia da Bloomberg surge numa altura em que o Reino Unido e a União Europeia entraram numa semana importante, com reuniões hoje, quarta e quinta-feira dos três grupos de negociadores criados para abordarem os temas dos direitos humanos, acordo financeiro e outros assuntos relativos à separação, assim como os coordenadores dos assuntos relacionados com a Irlanda do Norte e as questões da “governança” do acordo de saída.

Na quinta-feira, esta ronda de conversações encerra com uma sessão plenária entre os participantes e uma conferência de imprensa, que deverá ser protagonizada por Barnier e Davis, que abriram as negociações na segunda-feira de manhã.

Esta será a primeira ronda de negociações dedicada inteiramente a fixar os termos de saída do Reino Unido, uma vez que a primeira, celebrada no passado dia 19 de junho, serviu apenas para estabelecer o calendário e o método de trabalho dos negociadores, que passarão a reunir-se uma semana por mês em Bruxelas.

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