“Temos interessados em Lisboa, mas também em Espanha. Temos contactos de restaurantes da capital e há espanhóis de Vigo e Ourense, por exemplo, a viajarem até Melgaço para virem comer bifes de vaca Cachena”, conta José Gonçalves, presidente da Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca, entidade que gere a denominação de origem da carne Cachena da Peneda.
A vaca Cachena da Peneda é a mais pequena raça bovina portuguesa e uma das mais pequenas do mundo. O animal atinge uma altura máxima de 110 centímetros e sobrevive ao frio nas serras da Peneda, Soajo e Amarela, no Parque Nacional na Peneda-Gerês (Norte de Portugal). A sua carne distingue-se por ser suculenta, tenra, de cor rósea clara, com uma consistência firme, ligeiramente húmida e com pouca gordura intramuscular.
Segundo José Gonçalves, em causa está um produto ‘slow food’ que sabe “à terra, às gentes e às tradições”. A produção da carne da Cachena no Norte de Portugal quase triplicou entre 2014 e 2015, passando das 80 carcaças vendidas para as 216. Para este ano, a Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca estima que a produção continue a crescer e aumente 20% em relação a 2015.
Atualmente, há cerca de cinco mil cabeças de gado bovino da raça no mundo.
Com a parceria do grupo Agros, a carne da vaca Cachena começou a ser comercializada em todo o Norte de Portugal, mas o objetivo da Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca é ampliar a produção e tentar ajudar os produtores a aumentar a produção, de acordo com José Gonçalves.
Assumindo que se trata de “um nicho de mercado”, o responsável refere que o futuro passa por educar os produtores, com formação e sensibilização para que “saibam tratar ainda melhor dos animais”. Outra medida para aumentar a produção de carne da Cachena é não abater as fêmeas daquela raça portuguesa para continuarem a procriar.
O sabor peculiar, a suculência e a maciez da carne da Cachena são conseguidos por os bovinos serem “quase de caça”, pois andam à solta nos terrenos das serras. Outro elemento essencial para tornar a carne mais tenra e especial é, segundo o especialista, colocar os animais em estábulos durante três ou quatro meses.
Nas últimas semanas decorreram em Portugal manifestações de protesto de produtores dos setores agrícola e pecuário, desde a suinicultura à produção de leite e de carne, a exigir mais medidas de apoio por parte do Governo e da União Europeia, numa altura de crise.
Questionado pela Lusa, o responsável diz que para já “este nicho de mercado não se pode queixar muito”, todavia, há matadouros a pagar muito pouco pelo quilo de carne. A garantia da qualidade da carne da Cachena é sujeita a um sistema de controlo e certificação desde o produtor até ao consumidor final. A raça é explorada em regime extensivo, por vezes quase semisselvagem, e é atualmente parte “integrante do património genético de Portugal”, considera a cooperativa agrícola.
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