É sabido que preços variam consoante o estabelecimento comercial onde se fazem as compras, seja por comodidade ou opção. Neste Inflação à Portuguesa voltámos a fazer as compras por si, e a diferença numa receita tão comum como carne guisada com esparguete pode chegar aos 2,15 euros.

Para o comparativo usaram-se apenas as grandes superfícies comerciais que têm lojas online e que, por esse motivo, permitem comprar o preço dos seus produtos. Não se fugiu a marcas nem promoções, a lógica foi mesmo escolher os produtos mais baratos disponíveis, em quantidades equivalentes. Não estão aqui previstas taxas de entrega, pois há sempre a possibilidade de uma deslocação "in loco" ao supermercado que mais lhe convém.

E vejamos:

Pingo Doce - 11,79 euros

  • Carne para Cozer e Estufar de Vitela e Vitelão (500g): 3,99 euros
  • Massa Esparguete Pingo Doce (500g): 0,64
  • Tomate Pedaços Pingo Doce (390g): 0,89 euros
  • Cebola (500g): 0,99 euros
  • Cenoura (1kg): 1,39 euros
  • Azeite Beirão (750g): 3,89 euros

Continente - 13,05 euros

  • Jardineira de Bovino Nacional para Guisar (500g): 4,99 euros
  • Massa Esparguete Continente (500g): 0,80 euros
  • Tomate em Pedaços Continente (390g): 0,89 euros
  • Cebola Continente (500g): 0,99 euros
  • Cenoura (1kg): 1,29 euros
  • Azeite Continente (750 ml): 4,09 euros

Auchan - 13,80 euros

  • Jardineira De Novilho Auchan (500g) - 5,49 euros
  • Esparguete Auchan (500g) - 0,79 euros
  • Tomate Pedaços Cimarrom (390g) - 1,19 euros
  • Cebola (500gr): 0,99 euros
  • Cenoura (1kg): 1,35 euros
  • Azeite Polegar (750ml): 3,99 euros

El Corté Inglés - 13,94 euros

  • Jardineira de novilho ao peso (500g) - 4,47 euros
  • Napolitana Esparguete embalagem (500g) - 0,80 euros
  • El Corte Inglés Selection Tomate Pelado aos Pedaços Extra lata (410g) - 1,35 euros
  • Cebola (500g): 0,99 euros
  • Cenoura (1kg): 1,39 euros
  • El Corte Inglés Azeite Virgem Extra garrafa (750 ml): 4,94 euros

Receita: Coloque azeite numa panela e adicione a carne temperada com sal e pimenta para selar. Retire e reserve. No mesmo tacho, volte a colocar azeite e refogue a cebola picada, deixando alourar. Se tiver alho aí por casa é bem-vindo. Corte as cenouras em juliana e junte ao preparado. A seguir acrescente a lata de tomate em pedaços (que nos perdoem os puristas que certamente utilizarão tomate "de verdade"). Adicione a carne reservada, uma folha de louro e um caldo de carne. Depois, acrescente uma "pitada" de vinho branco e meio litro de água quente. Tape e deixe cozinhar por uns 40 minutos. Caso seja necessário, a meio do tempo adicione mais água. Quando a carne estiver cozida acrescente o esparguete e deixe cozer por uns dez minutos, até ficar no ponto. Vá monitorizando se é preciso acrescentar água quente ao preparado.

Como é hábito desta rubrica, o Inflação à Portuguesa serve igualmente de mote para falar sobre as notícias mais recentes em torno do aumento do custo dos bens essenciais. Esta sexta-feira, o governo anunciou várias medidas de apoio às famílias, entre as quais um cabaz essencial com taxa de IVA a 0%.

O Ministro das Finanças, Fernando Medina, anunciou ajudas de Estado à produção, no valor estimado de 140 milhões de euros, pagos diretamente aos produtores agrícolas. Paralelamente, haverá uma redução da fiscalidade, nomeadamente no IVA, desde que haja um compromisso dos retalhistas em não absorverem o alívio fiscal nas margens de lucro.

“Vamos trabalhar com os produtores e definir um cabaz de preços fixo com o IVA zero para esse cabaz de bens essenciais”, disse Medina. Esse cabaz será elaborado pelo Ministério da Saúde e abrangerá também "os produtos mais consumidos" pelas famílias portuguesas, garantiu o governo.

Apesar de a taxa zero no IVA se aplicar apenas aos produtos essenciais e saudáveis definidos no cabaz, o ministro das Finanças demonstrou confiança de que a medida irá influenciar os preços de outros produtos. Entre os objetivos do governo está também "assegurar a estabilidade dos preços durante algum período de tempo", afirmou.

As reações não tardaram.

  • Politicamente, só Marcelo elogiou o governo, cujas medidas, diz, foram "tomadas no momento adequado". Se são suficientes, isso "depende da evolução do Orçamento no futuro e depende sobretudo de a inflação quebrar ou não quebrar". A oposição, todavia, considerou as medidas curtas, tardias, ineficazes e insuficientes.
  • A Cáritas Portuguesa assume que estas podem "diminuir a situação de emergência social", mas não resolvem a pobreza no país.
  • Da mesma forma, a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, disse que "dar agora balões de oxigénio obviamente que é bom, mas não é suficiente”. “Gostaria de ter visto algo que fosse mais estrutural e que permitisse não apenas às famílias que têm baixos salários poderem enfrentar este momento, em que têm uma maior pressão sobre os seus rendimentos, mas que pudessem ter a perspetiva e a esperança de que isto se ia aplicar depois”, observou.
  • O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) considerou o IVA 0 no cabaz essencial  "ajustado", mas "tardio".
  • A bastonária da Ordem dos Nutricionistas, por sua vez, vê com bons olhos o que hoje foi anunciado, dizendo mesmo que é "inovador", e justifica: "Além da redução do IVA para zero no cabaz de alimentos considerados essenciais, vai haver um esforço, pelo que se entende, para fazer um acordo com a produção e a distribuição para que os preços fiquem estáveis ao longo do tempo e não se venha a verificar aquilo que se verificou, por exemplo, na vizinha Espanha”, onde a redução do IVA não teve grande impacto.

Resta agora saber que impacto será esse, e isso só o tempo dirá.

(Artigo corrigido às 21:26: revisto o preço de um dos artigos, a carne jardineira, o que fez alterar a diferença total entre receitas)