A agência de notação financeira canadiana DBRS anunciou hoje que manteve o 'rating' atribuído a Portugal em 'BBB' (baixo), o primeiro nível de investimento, acima do 'lixo', deixando também inalterada a perspetiva estável, o que sinaliza a intenção de não alterar esta nota no médio prazo.

Em entrevista à Lusa, a analista Nichola James disse que a DBRS manteve a perspetiva estável por três razões: "a demonstração do compromisso do Governo de cumprir as regras orçamentais europeias", "a tentativa de resolver as vulnerabilidades que persistem no setor bancário" e o facto de os "elevados custos de financiamento estarem a ser mitigados pelo perfil estável da dívida".

Mas, para melhorar a perspetiva do 'rating' para positiva, o que sinalizaria a intenção da agência de subir o 'rating' de Portugal, a DBRS "teria de ver estas melhorias de forma muito mais duradoura e sustentável durante um período maior de tempo".

Reconhecendo que "houve uma melhoria no ano passado" e antecipando que o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) "comece a cair este ano", Nichola James considera que "isso não é suficiente" para rever já a perspetiva do 'rating' atribuído ao país.

A analista da DBRS adverte ainda que "um período prolongado de taxas de juro elevadas" sem que a isso corresponda um nível de crescimento económico superior ao verificado será visto de "forma adversa" porque iria "afetar a dinâmica da dívida a prazo".

Quanto ao crescimento económico, a DBRS entende que a expectativa de que a economia portuguesa cresça a um ritmo de 2% ao ano a partir de 2021 é "otimista".

"Só olhando para o esforço estrutural que foi feito até agora, ele é encorajador, mas achamos que é preciso fazer muito mais para melhorar o crescimento potencial. Para alcançar um crescimento de cerca de 2% ao ano, é preciso mais esforço estrutural e é esse o problema", resumiu.

A frente orçamental é outro foco da atenção da agência canadiana, que alerta que "a melhoria estrutural no ano passado não foi tão grande como o esperado" e que "algumas medidas são 'one-off' [temporárias] ou então devem-se a fatores cíclicos como o maior crescimento na segunda metade do ano" passado.

Referindo-se às cativações de despesa feitas pelo ministério de Mário Centeno em 2016 para garantir uma execução orçamental positiva, Nichola James diz que a DBRS "percebe que o Governo pode fazer isso", mas que "preferia que houvesse mais progressos nas reformas orçamentais para melhorar a eficiência da despesa".

Em 2016, Portugal fechou o ano com um défice orçamental de 2% do PIB e uma dívida de 130,4% e, para 2017, o Governo espera reduzir o défice para os 1,5% e a dívida para os 127,9%. Os dois indicadores deverão melhorar gradualmente, atingindo-se um saldo orçamental positivo em 1,3% em 2021 e uma dívida de 109,4% no mesmo ano, de acordo com as últimas projeções das Finanças.