Rogers renunciou de forma inesperada quando faltam quase três meses para que o Reino Unido inicie as negociações formais sobre a sua retirada da União Europeia depois de os britânicos terem votado a favor do “Brexit” no referendo do passado 23 de junho.

A demissão de Rogers é vista hoje pela imprensa como um claro descontentamento com a gestão do Governo da conservadora Theresa May antes do início das conversações com Bruxelas.

Na sua carta de demissão enviada aos colegas em Bruxelas, e publicada hoje na imprensa britânica, o diplomata teceu duras críticas contra o Governo, ao afirmar que os ministros precisam de ouvir pontos de vista “incómodos” da Europa.

Também revela que os funcionários ainda não sabem quais são as prioridades de negociação do governo de Londres.

Na carta, o embaixador, que deixará o seu posto nas próximas semanas, quando for nomeado o seu substituto, adverte que o Governo só conseguirá o melhor para o país se “aproveitar a melhor experiência (de pessoal) que nós temos”.

“Espero que vocês continuem a desafiar os argumentos infundados e o pensamento confuso e que nunca tenham medo de dizer a verdade aos que estão no poder”, acrescentou.

“Espero que se apoiem uns aos outros nesses momentos difíceis, em que devem entregar mensagens que são desagradáveis para os que necessitam ouvi-las”, sublinha o diplomata.

O diplomata explicou que decidiu renunciar agora ao invés de esperar para terminar o seu tempo de serviço no final do ano para evitar a interrupção do processo de negociação sobre o “Brexit”.

“É óbvio que não faz sentido que o meu cargo mude de mãos no final deste ano”, escreveu Rogers.

Rogers, considerado um diplomata experiente nas negociações com a UE, renunciou ao cargo pouco antes de o Reino Unido ativar, em finais de março, o processo de negociações sobre o ‘Brexit’, a saída do país do bloco europeu.

Designado em finais de 2013, o diplomata foi um dos principais assessores do ex-primeiro-ministro conservador David Cameron nas negociações prévias ao referendo europeu para tentar garantir alterações às cláusulas da participação britânica na UE.

Na sequência dessas conservações, onde foram acordadas mudanças no acesso dos cidadãos comunitários às ajudas sociais britânicas, Cameron decidiu convocar um referendo sobre a permanência ou saída do Reino Unido da UE, que decorreu em 23 de junho.

No final de 2016 Rogers suscitou uma enorme controvérsia, ao considerar que o acordo comercial com a UE após a saída britânica do bloco levaria uma década a ser concretizado e que inclusivamente poderia fracassar porque necessitaria da ratificação dos restantes 27 Estados-membros.

Segundo o Financial Times, as relações do embaixador com a equipa da primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, deterioraram-se nos últimos meses.

Rogers é um funcionário britânico e foi secretário pessoal do ex-ministro da Economia Kenneth Clark, tendo ainda colaborado com o ex-primeiro-ministro trabalhista Tony Blair.

Theresa May indicou que vai fornecer durante este mês diversos pormenores sobre os seus planos de negociação com o bloco europeu, após ter sido criticada pela ausência de informações sobre o que sucederá no ‘pós-Brexit’.

O Reino Unido deverá abandonar a União Europeia na primavera de 2019.