“Zelensky disse que exigia que Putin fosse pessoalmente [a Istambul]. Bem, que pessoa patética”, comentou Serguei Lavrov num discurso aos diplomatas em Moscovo, transmitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

Lavrov disse também que as capitais ocidentais não querem a paz na Ucrânia e estavam a discutir entre si que não poderiam admitir acabar com a mobilização da Europa contra a Rússia.

O Ocidente está a “meter-se em sarilhos” no confronto com Moscovo, afirmou, citado pela agência de notícias russa Ria Novosti.

Lavrov destacou em particular o Reino Unido, que disse estar a interferir no processo diplomático de resolução da situação na Ucrânia.

“Um conselheiro do primeiro-ministro britânico em matéria de segurança nacional já foi destacado para Zelensky, para que ele não diga nada desnecessário e acabe por enterrar a sua reputação e a reputação daqueles que o treinam”, afirmou.

O ministro sublinhou que a posição da Rússia é a de um acordo justo a longo prazo.

Disse que a diplomacia não é uma questão de adivinhar e gritar ao microfone, como afirmou ser prática de Zelensky, “mas sim de o fazer profissionalmente”.

Referiu também que a questão das capacidades militares de que a Ucrânia disporá está longe de estar resolvida.

Lavrov apelou para que se dê uma oportunidade às negociações de paz em Istambul, mas criticou a proposta de cessar-fogo defendida por Kiev e pelos aliados ocidentais, afirmando que só serviria para rearmar a Ucrânia.

“Devemos dar uma oportunidade às negociações, mas ninguém pode garantir que tudo correrá bem, sem problemas”, disse o ministro aos diplomatas, também citado pela agência de notícias espanhola EFE.

Menos comedida nas palavras, a porta-voz de Lavrov, Maria Zakharova, chamou hoje “palhaço e falhado” a Zelensky por ter afirmado que a delegação russa enviada à Turquia era uma farsa.

“Quem usa a palavra ‘farsa’? Um palhaço? Um falhado? Uma pessoa sem qualquer tipo de formação”, afirmou Zakharova, durante uma conferência de imprensa em Moscovo, citada pela AFP.

“Mas quem é ele?”, acrescentou, referindo-se a Zelensky.

Zelensky, que chegou hoje à Turquia, tinha desafiado Putin a viajar para Istambul para se reunirem os dois no âmbito das conversações bilaterais sobre a guerra russa contra a Ucrânia, as primeiras em mais de três anos.

A Rússia anunciou na quarta-feira à noite a composição da delegação, que não inclui Putin, nem sequer Lavrov ou o conselheiro presidencial para as relações internacionais, Yuri Ushakov, como chegou a ser noticiado.

A delegação é chefiada pelo conselheiro presidencial Vladimir Medinsky, e integra os vice-ministros dos Negócios Estrangeiros Mikhail Galuzin e da Defesa Alexandr Fomin, além de uma série de peritos.

Medinsky declarou que a delegação russa está empenhada num trabalho sério e profissional nas negociações em Istambul, segundo a Ria Novosti.

Acrescentou que o objetivo das negociações diretas propostas por Putin é estabelecer uma paz duradoura e a longo prazo, eliminando as causas profundas do conflito.