Esta foi uma posição comum aos professores universitários Eduardo Paz Ferreira, Vítor Escária e Efigénio Rebelo, num debate sobre "os desafios dos próximos orçamentos" integrado no programa das Jornadas Parlamentares do PS, que terminam no domingo em Portimão.

Vítor Escária, ex-assessor do atual primeiro-ministro, e Eduardo Paz Ferreira, professor da Faculdade de Direito de Lisboa, coincidiram na ideia de que o "défice zero" não é só por si uma virtude.

Eduardo Paz Ferreira invocou mesmo a "fixação salazarista" de contas públicas equilibradas, que teve como resultado, na sua perspetiva, "um país pobre com cidadãos muito pouco qualificados".

Os três convidados pelo Grupo Parlamentar do PS elogiaram a linha de estabilidade seguida pelo atual Governo, mas alertaram para os riscos em termos de nível de juros a pagar por Portugal nos mercados internacionais em consequência de fenómenos como a instabilidade do executivo italiano, a saída do Reino Unido da União Europeia, ou o agravamento da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.

"Na União Europeia, passámos de patinho feio [em 2016] a cisne, mas o caminho vai continuar a ser estreito. Na nossa margem de autonomia, o que esteve disponível foi sempre direcionado para as melhores opções? Penso que não", observou Vítor Escária, considerando em seguida como prioritário a introdução de melhorias ao nível da eficiência da despesa a efetuar.

O ex-assessor de António Costa deixou ainda mais um recado ao PS: "É melhor não voltar a fazer um cenário macroeconómico a quatro anos, porque isso é mau do ponto de vista eleitoral", disse, motivando então risos entre os deputados socialistas.

Efigénio Rebelo, da Universidade do Algarve, criticou aqueles que tentam depreciar o ministro das Finanças, Mário Centeno, chamando-lhe "o cativador mor".

"As cativações são boas ou má em função dos critérios que lhes estão subjacentes. As cativações impediram sanções contra Portugal e travaram despesas não prioritárias", sustentou.

Eduardo Paz Ferreira lançou dúvidas sobre a transferência de poderes ao nível orçamental dos parlamentos nacionais para a União Europeia e caracterizou o Tratado Orçamental como "uma das maiores aberrações".