“Desde 2009 as vendas de calçado português no exterior aumentaram mais de 50%. Fruto de uma aposta sem precedentes nos mercados internacionais, Portugal passou a exportar mais 700 milhões de euros, alargando ainda a geografia das exportações a mais de 20 novos destinos”, destaca a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes e Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

Segundo a associação setorial, Portugal exportou em 2017 um total de 83 milhões de pares de calçado (mais de 95% da produção) para 152 países dos cinco continentes, com a Europa a manter-se o principal destino das exportações nacionais, acolhendo 80% do total, mas sendo crescente o interesse das empresas portuguesas em explorar os mercados fora do contexto europeu.

No ano passado, as vendas para a União Europeia aumentaram cerca de 2%, destacando-se as evoluções na Alemanha (mais 11%, para 375 milhões de euros), Holanda (mais 4,5%, para 281 milhões de euros) e Dinamarca (mais 12,9%, para 107 milhões de euros).

Em contrapartida, verificaram-se desempenhos negativos em França (queda de 1,5%, para 410 milhões de euros), Espanha (descida de 6,6%, para 174 milhões de euros) e Reino Unido (abrandamento de 6,1%, para 125 milhões de euros).

Fora da União Europeia a exportações portuguesas cresceram 7,1%, merecendo referência os bons resultados registados na Rússia (mais 63%, para 33 milhões de euros), Angola (mais 6%, para 18 milhões de euros) e China (mais 3%, para 13 milhões de euros).

Já para o Canadá e para os EUA, país que está na mira das ações da APICCAPS este ano, as exportações abrandaram 1,5%, para 99 milhões de euros.

Para 2018 e 2019 o setor português do calçado tem planeado um investimento de 31 milhões de euros em promoção externa, com duas centenas de empresas a participarem em mais de 110 ações promocionais no exterior.

A aposta será, por um lado, no reforço da presença em feiras e exposições de plataforma mundial — nomeadamente na Micam e na Expo Riva Schuh, ambas em Itália, e na Gallery, na Alemanha –, sendo outra das linhas de ação o investimento em iniciativas “de forte cariz regional” em Berlim, Copenhaga, Madrid e Londres.

Paralelamente, as empresas de calçado estão a iniciar o processo de abordagem ao mercado norte-americano, o maior importador mundial de calçado e onde foi detetado “um potencial de crescimento muito significativo para a próxima década”: “Para os EUA e Canadá Portugal terá exportado em 2017 valores próximos dos 100 milhões de euros. Nos últimos cinco anos, as vendas para Canadá e EUA triplicaram”, refere a APICCAPS.

Com um total de 1.473 empresas registadas no final de 2016, a indústria portuguesa de calçado assistiu, desde 2010, à criação de 228 novas unidades (+18%), sendo atualmente responsável por 38.661 postos de trabalho, mais 20% (6.529 empregos) do que em 2010.

Considerando todo o ‘cluster’, somam-se a estes números 120 empresas de artigos de pele e 277 de componentes para calçado, responsáveis por 1.546 e 4.952 postos de trabalho, respetivamente, e por exportações de 178 e 47 milhões de euros, pela mesma ordem.

Globalmente, a fileira nacional do calçado engloba 1.870 empresas (mais 17% do que em 2010) e emprega 45.159 pessoas (um crescimento de 22,1% face às 36.985 pessoas de 2010).

Com a ambição assumida de “ser a indústria mais moderna do mundo, aliando o saber às mais modernas tecnologias”, o setor português do calçado tem previsto um investimento de 50 milhões de euros até 2020 no âmbito de um programa de inovação e economia digital — o FOOTUre 4.0.

Apresentado em março no Centro Tecnológico do Calçado (CTCP), em São João da Madeira, o FOOTure 4.0 apresenta-se como um “roteiro para economia digital” que visa “explorar as oportunidades criadas pela Indústria 4.0″, envolvendo “um novo ecossistema” de mais de 70 entidades entre empresas, ‘startup’ (empresas com potencial de crescimento), universidades, centros de inteligência e entidades do sistema científico e tecnológico”.

Segundo a APICCAPS, o FOOTure 4.0 definiu quatro “prioridades estratégicas”: criar formas de interação com o cliente num contexto digital e em rede; melhorar a flexibilidade, tempo de resposta ao cliente, inteligência de negócios e sustentabilidade; qualificar o setor para a Indústria 4.0, tornando-o mais dinâmico, inovador e capaz de criar negócios; e melhorar a inteligência e imagem do setor.