“Uma recessão mundial está ao virar da esquina? A resposta é não, mas definitivamente aumentou o risco de que a redução do crescimento se agudize”, disse a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, numa conferência de imprensa em Davos, por ocasião do Fórum Económico Mundial, que começa na terça-feira.
As declarações de Lagarde coincidiram com a publicação do relatório do FMI sobre as perspetivas económicas globais, com um revisão em baixa da previsão de crescimento da economia mundial para 3,5% em 2019 e 3,6% em 2020, o que representa uma descida de duas e de uma décima, respetivamente, em relação ao dados divulgados em outubro passado.
A descida nas previsões de crescimento assenta essencialmente na desaceleração da zona euro, em particular da economia alemã, na forte contração da Turquia e na moderação do crescimento na América Latina.
“Na zona euro, as revisões em baixa mais significativas são as da Alemanha, que enfrenta dificuldades de produção no setor automóvel e uma descida da procura externa”, explicou a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, que acompanhou Lagarde na conferência de imprensa.
Gopinath acrescentou que um dos maiores riscos para a economia mundial é uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia ou uma saída que se prolongue durante meses.
“Se somarmos as incertezas, as preocupações geopolíticas e as projeções dececionantes de crescimento a longo prazo temos um panorama económico com uma mensagem muito clara para os líderes políticos: resolvam os pontos vulneráveis e estejam preparados caso uma grave desaceleração se materialize”, disse Lagarde.
O objetivo é que as economias sejam mais resistentes, mais inclusivas e optem pelo caminho da colaboração, em vez da confrontação, explicou.
A líder do FMI sustentou que chegou o momento de os governos concretizarem reformas que incentivem o crescimento e disse que as medidas a favor da economia devem beneficiar “todos” e criar “mais oportunidades para os jovens e as mulheres”.
Segundo o relatório, o crescimento das economias avançadas, especialmente dos países que utilizam o euro, abrandou “mais rapidamente do que o antecipado”, enquanto as economias emergentes foram afetadas “pelas contrações na Turquia e na Argentina, bem como pelo impacto das ações comerciais em relação à China e outras economias asiáticas”.
Não obstante, o FMI manteve sem alterações as previsões para as duas grandes economias mundiais: os Estados Unidos devem crescer 2,5% este ano, com um crescimento mais moderado de 1,8% no próximo, à medida que o efeito dos estímulos fiscais se dissipar.
De acordo com os economistas da instituição financeira, a China deve crescer 6,2% em 2019 e 2020, depois de o país ter anunciado hoje que teve um crescimento de 6,6% em 2018, o mais fraco desde 1990.
No entanto, Gopinath afirmou que a desaceleração da China “pode ser mais rápida do que se espera”, especialmente se a tensão comercial com os Estados Unidos continuar, o que por sua vez pode deteriorar as condições nos mercados financeiros e nas matérias-primas.
Lagarde pediu “solidariedade” e “redobrar os esforços para resolver os problemas” atuais, em particular os relativos a comércio internacional, luta contra a corrupção e evasão fiscal e enfrentar as ameaças que resultam das alterações climáticas.
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