Questionado pela Lusa sobre se a hotelaria algarvia poderia estar totalmente encerrada naquele período, o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, respondeu: “Sim, exatamente, e se alguns não estiverem fechados, é como se estivessem, não vale a pena pensar noutro cenário”.
O dirigente da principal associação hoteleira do Algarve disse que os empresários estão a atravessar uma “situação que era impensável há duas semanas”, quando “ninguém pensaria que a hotelaria do Algarve toda iria encerrar, da forma como está a encerrar”, e pediu ao Governo para ser “mais ousado” nos apoios às empresas.
“Os hotéis mais importantes da região já estão todos encerrados, e os outros, que porventura ainda não estejam, vão estar”, estimou Elidérico Viegas, advertindo que a “atividade está a reduzir-se a zero” e as empresas estão a sentir “estrangulamentos diversos”, criados pelo confinamento domiciliário, a limitação do tráfego aéreo e o controlo de acesso nas fronteiras terrestres impostos pelo estado de emergência decretado para conter a expansão da pandemia.
O presidente da AHETA reconheceu que todos estão a “viver um período único, excecional, que ninguém viveu antes”, e que “parece um pesadelo”, e corrigiu a pergunta da Lusa ao ser questionado sobre quantos hotéis já fecharam no Algarve.
“A pergunta de quantos encerraram não se deve colocar, deve-se perguntar é quantos ainda estão abertos. E os que ainda estão, mais tarde ou mais cedo vão fechar”, contrapôs, sem avançar números.
Os hotéis que ainda permanecem abertos “estão a acabar os últimos clientes”, que também “estão a regressar aos países de origem”, e “todos eles estão neste momento a caminho do encerramento”, insistiu.
A ideia de que o turismo interno poderia ajudar a contrariar a tendência de quebra na ocupação proveniente de outros países já não colhe, porque “neste momento não existe, as pessoas estão, no seguimento das medidas de emergência, confinadas às suas residências normais e também não se deslocam”, acrescentou.
“As grandes cadeias hoteleiras do país, como o Pestana, o Vila Galé ou o Tivoli, já estão todas fechadas, não vamos pensar que os outros hotéis, mais independentes e mais pequenos, estão abertos, não faz sentido”, argumentou.
Sobre as medidas de apoio económico anunciadas pelo Governo para a hotelaria/turismo e para as empresas fazerem face à crise causada pela pandemia, Elidérico Viegas considerou que, “embora tenha havido avanço para facilitar a implementação, a verdade é que continua a haver muita burocracia envolvida em torno das medidas”.
O presidente da AHETA pediu ao Governo para “ser mais ousado” e para seguir outros países da União Europeia, que “suportam os custos salariais” de quem está inativo a 70 ou 80%, e lembrou que as linhas de crédito “não são subsídios” e “vão ter que se pagar” os empréstimo com juros que “são exageradamente elevados”.
Elidérico Viegas defendeu que estes créditos deviam ser geridos por um “Instituto de Financiamento ao Turismo”, através do Turismo de Portugal, que se iria “substituir à banca na concessão de empréstimos à atividade empresarial, quer hoteleira quer turística”, porque, atualmente, “entre pedidos e aprovações, decorre um tempo excessivo” até o apoio chegar às empresas.
O Estado também deveria “isentar” as empresas das obrigações fiscais em vez de as “diferir para mais tarde”, defendeu, considerando que esta é uma “crise sem paralelo” e, “se o Estado não assumir o seu papel, as empresas não vão estar em condições de, na fase de retoma, recuperar a economia”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Em Portugal, registaram-se 76 mortes, mais 16 do que na véspera (+26,7%), e 4.268 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 724 novos casos em relação a quinta-feira (+20,4%).
Dos infetados, 354 estão internados, 71 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.
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