“Vamos manter-nos pacientes na determinação do momento do primeiro aumento das taxas [de juro] e vamos adotar uma abordagem gradual para ajustar a política a partir daí”, afirmou o presidente do BCE, Mario Draghi, no arranque do segundo dia do Fórum do BCE, que decorre até quarta-feira.
O encontro dos bancos centrais em Sintra ocorre poucos dias depois de o BCE ter anunciado que vai reduzir o programa de compra de ativos (principalmente dívida pública) para 15 mil milhões de euros mensais a partir de outubro, terminando as aquisições de dívida no fim do ano. Ao mesmo tempo, o BCE decidiu manter as taxas de juro diretoras nos níveis atuais, pelo menos até o verão de 2019.
“Resumindo, e isto não será uma surpresa para vocês, a política monetária na zona euro vai continuar a ser paciente, persistente e prudente”, afirmou Mario Draghi, depois de apresentar alguma incerteza quanto à sustentabilidade do crescimento económico da zona euro.
Apesar de a economia da zona euro continuar a crescer e de a inflação estar a regressar gradualmente ao objetivo de médio prazo (de ficar próxima, mas abaixo, de 2%), o presidente do BCE afirmou que “a incerteza entrou” nas previsões e levantou dúvidas sobre a duração da previsão de crescimento económico.
Depois de o crescimento económico da zona euro em 2017 ter ficado “acima das expetativas”, tendo sido, no último trimestre, o mais elevado a última década, o responsável europeu disse que em 2018, até ao momento, o crescimento ficou “abaixo das expetativas”.
Na semana passada, a instituição monetária reviu em baixa a previsão de crescimento da economia da zona euro de 2,4% para 2,1% no conjunto de 2018, o que “levantou algumas questões sobre a sustentabilidade da expansão atual, que não são habituais num momento tão precoce do ciclo”, salientou Mario Draghi.
Para o presidente do BCE, “é inquestionável que a incerteza em torno do crescimento económico aumentou”. Entre os riscos negativos apontados está a “ameaça de uma escalada no protecionismo a nível global, imposto pelas taxas sobre aço e alumínio definidas pelos Estados Unidos; o aumento do preço do petróleo, devido a maiores tensões no Médio Oriente; e a possibilidade de uma volatilidade acentuada e persistente nos mercados financeiros”.
“Vamos continuar a acompanhar estes desenvolvimentos de perto”, garantiu Mario Draghi, até porque, disse, importa saber como é que o crescimento se repercute na inflação.
O crescimento económico está a começar a gerar uma dinâmica positiva nos preços (o BCE reviu em alta, para 1,7%, a previsão para a inflação deste ano), “mas a incerteza que surge dos desenvolvimentos económicos arrasta-se pelas várias fases deste processo”, admitiu Mario Draghi.
O presidente do BCE explicou que a decisão de reduzir a compra de ativos “reconhece o aumento da incerteza”, mas mostra que Frankfurt “está confiante” de que será atingido o objetivo de inflação “sem a necessidade de mais compras líquidas de ativos”.
Ainda assim, “a convergência projetada permanece dependente do impacto substancial de políticas passadas” e, por isso, ainda são necessárias políticas monetárias acomodatícias para suportar o objetivo de médio prazo.
Por isso, o BCE disse que, além de manter as taxas de juro nos mesmos níveis por mais um ano, está disponível para as manter assim “enquanto necessário para garantir que a evolução da inflação continua alinhada com as expetativas de um caminho sustentável”.
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