“Continuamos empenhados em cumprir o nosso mandato de estabilidade de preços, como temos feito ao longo dos últimos 20 anos. O nosso objetivo é uma taxa de inflação de 2% a médio prazo e, para o conseguirmos, adotaremos as medidas certas no momento certo”, afirmou Christine Lagarde.

Intervindo na sessão plenária do Parlamento Europeu num debate sobre o relatório anual do BCE de 2021, na cidade francesa de Estrasburgo, a responsável apontou que “a inflação subiu acentuadamente nos últimos meses e surpreendeu ainda mais em janeiro”, devendo agora “manter-se elevada a curto prazo”, principalmente ‘puxada’ pelos preços energéticos.

“A nossa orientação para o futuro tem várias dimensões” e “uma subida das taxas [de juro] não ocorrerá antes do fim das nossas compras de ativos”, insistiu Christine Lagarde, ressalvando existirem “três condições para que o Conselho do BCE se sinta suficientemente confiante” com tal medida.

Essas condições “destinam-se a constituir salvaguardas contra um aumento prematuro das taxas de juro”, apontou, falando em “ajustamentos graduais”.

No início deste mês, o BCE anunciou que decidiu deixar as taxas de juro inalteradas, em mínimos históricos, com a principal taxa de refinanciamento em zero e a taxa aplicada aos depósitos em -0,50%.

Ainda assim, a presidente do BCE disse não excluir completamente uma subida das taxas de juro em 2022.

Depois de Christine Lagarde e outros dirigentes do BCE terem vindo a considerar muito improvável que este ano estivessem reunidas as condições para avançar com tal medida, a responsável admitiu que “a situação mudou”.

Também no início do mês, a instituição monetária confirmou que termina no final de março o seu programa de compra de dívida de emergência devido à pandemia (PEPP).

O banco central decidiu em dezembro comprar dívida com um outro programa que já existia antes, conhecido como APP, uma vez concluídas as compras de emergência devido à pandemia, mas a um ritmo mais lento do que com o PEPP.

O BCE tem como principal mandato a estabilidade dos preços, pelo que definiu, em 2021, uma nova estratégia que contempla um objetivo de inflação de 2% a médio prazo.

A contribuir para a elevada inflação, que atingiu um recorde de 5,1% em janeiro deste ano, estão os custos energéticos e os problemas nas cadeias de abastecimento globais, por questões como a situação geopolítica mundial, numa altura em que a tensão entre a Rússia e a Ucrânia se intensifica e causa novas perturbações no fornecimento de gás russo à Europa.

Banco Central Europeu defende euro digital "sem riscos" para compras 'online'.

Christine Lagarde, defendeu ainda a criação de um euro digital "sem riscos" para transações como pagamentos 'online', apoiando também aposta no numerário, com novas notas a serem aprovadas em 2024.

“No ano passado, lançámos o projeto do euro digital. Vamos investigar como é que o euro digital poderia oferecer um meio de pagamento conveniente e sem custos, permitindo que as pessoas paguem em qualquer parte da zona euro com dinheiro digital sem riscos, por exemplo, ao efetuar pagamentos ‘online’, que impedem a utilização de numerário”, declarou a responsável.

No Parlamento Europeu em Estrasburgo, Christine Lagarde vincou que, “em qualquer caso, um euro digital complementaria o numerário, não o substituiria”.

“Foi também por esta razão que lançámos o processo de redesenho das nossas notas”, acrescentou.

De acordo com a líder do BCE, “o redesenho faz parte de um processo de desenvolvimento a longo prazo para assegurar que a próxima geração de notas de euro continuará a ser segura, aceite e um meio de pagamento eficiente”.

“Manteremos o Parlamento informado ao longo de todo o processo e procuraremos obter contributos dos cidadãos sobre o tema e o desenho das novas notas, antes de tomarmos a nossa decisão final em 2024”, apontou, assegurando que o lançamento na zona euro “será planeado”.

“O redesenho das nossas notas é uma oportunidade única de as tornar mais acessíveis aos europeus de todas as idades e origens, oferecendo assim um novo símbolo da integração europeia”, adiantou Christine Lagarde.

A criação de um euro digital tem vindo a ser estudada há vários meses pelo banco central, sendo que a estrutura ainda não tomou qualquer decisão sobre o assunto.

Um euro digital seria uma forma eletrónica de moeda única acessível a todos os cidadãos e empresas — tal como as notas de euro, mas em formato digital –, permitindo por exemplo realizar pagamentos diários.

Funcionaria, então, como um complemento às notas e moedas de euro sem as substituir.

Uma moeda digital é um ativo semelhante ao dinheiro que é armazenado ou trocado através de sistemas ‘online’, sendo que no caso do euro seria gerida pelo banco central.

Adotado por 19 Estados-membros da União Europeia, o euro está em circulação há 20 anos e é a segunda moeda mais utilizada ao nível mundial nos pagamentos globais.

Dados do BCE revelam que, entre 1990 e 2002, o comércio entre os 19 países do euro registou subidas inferiores a 5%, passando depois a crescer 200% após a introdução da moeda única.