Também a desvalorização do kwanza influenciou o aumento dos preços nos armazéns, a principal fonte de abastecimento dos pequenos comerciantes, que nos mercados, nas ruas, revendem os produtos e com os lucros satisfazem as suas necessidades básicas.
Com a época festiva às portas, espera-se que se venha a acentuar o aumento dos preços, apesar de as autoridades garantirem que estão a ser implementadas medidas para se evitar a especulação.
O fraco poder de compra da população foi outro fator a provocar uma queda nos negócios, como contou Eva Agostinho, zungueira (vendedora ambulante) há 20 anos, mãe de sete filhos.
“O negócio está duro, está difícil, não aparece, está muito caro”, disse à Lusa, acrescentando que tem ainda de lidar com o problema dos fiscais, que recebem os produtos ou pedem dinheiro.
Dedicada à venda de pedaços de redes de pesca, que são utilizadas para o banho, o seu negócio vem da província de Benguela, mas o preço “aumentou muito, desde que o Presidente [da República] entrou no poder”, queixou-se Eva Agostinho.
Também Joana Bezerra, há 24 anos zungueira, vende roupas feitas com pano africano, mas considera que este negócio valeu a pena em tempos anteriores, porque os preços aumentaram e quase já não lucra.
“Há vezes que compramos a 1.000 kwanzas (1,1 euros) e vendemos a 1.500 (1,6 euros), para ganhar 500 kwanzas (0,5 euros) e é com isso que estamos a sustentar a nossa vida”, disse.
Joana Bezerra, com casa própria, tem ajuda do marido, que trabalha na Coca-Cola, diferente de Celestina Codina, de 51 anos, viúva e mãe de cinco filhos, que chegou a Luanda, capital de Angola, em 2014, vinda da província do Uíje, e um ano depois se tornou zungueira.
Celestina Codina comercializa vassouras, mas lamenta-se que o preço do produto subiu e “não ganha quase nada”.
“Com o bocado que ganhamos é que conseguimos comprar um quilo de fuba (farinha) e conseguir criar os filhos”, salientou, acrescentando que tem já alguma ajuda da filha mais velha, que também é zungueira de sacos de plástico.
Segundo Celestina Codina, diariamente consegue vender entre duas a três vassouras, e tem o ganho de 350 kwanzas (0,3 euros) em cada vassoura.
Entre as centenas de vendedores ambulantes na zona da estalagem, no município de Viana, estava também António Givunge, 58 anos, que há quase 38 anos está nas ruas a vender livros de ensino da língua portuguesa, inglesa e francesa.
António Givunge, natural da província de Malanje, disse que “o [custo do] negócio subiu”, mas vai “remediando a vida”, vendendo diariamente de quatro a cinco livros, com um ganho de 3.000 kwanzas (3,3 euros).
“Esse dinheiro é que está a nos sustentar, o importante é ter forças para trabalhar”, disse o zungueiro, que sustenta uma das três filhas que teve - duas já morreram - e mais três netos.
Apesar de fraco o negócio, António Givunge disse que vai continuar a vender os livros entre o centro da cidade e o município de Viana, “mesmo à rasca e com uma vida precária”.
Um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado em junho deste ano, refere que se estima que mais de 8,5 milhões de pessoas em Angola tenham um emprego informal.
*Reportagem por Nisa Mendes (texto), Marcos Focosso (vídeo) e Ampe Rogério (fotos), da agência Lusa
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