"Nunca quisemos ter nenhuma intervenção no banco [BCP]. Como disse Santos Ferreira [ex-presidente da CGD], quando ele foi convidado para constituir uma lista para a administração do BCP, a CGD tinha já uma posição mais pequena", afirmou Vara perante a Comissão de Inquérito à gestão da CGD.
E realçou: "Ter as ações de uma cotada como colateral de determinado empréstimo era normal. Naquela época era. Quando chegámos ao BCP, a nossa primeira decisão foi uma instrução interna para proibir a compra de ações do BCP com crédito do BCP".
De resto, Vara garantiu que, ainda antes da guerra acionista que se abateu sobre o BCP, a gestão liderada por Carlos Santos Ferreira tinha decidido reduzir a participação do banco público no capital do banco fundado por Jardim Gonçalves, algo que concretizou de forma faseada.
"Quando chegámos à CGD o banco tinha quatro e tal por cento do BCP. Lembro-me de numa conversa com o presidente, quando fizemos uma lista das principais participações da CGD, termos chegado rapidamente à conclusão que não fazia muito sentido a CGD ter uma participação daquela dimensão no BCP", afirmou.
O responsável, que falava durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD, sublinhou a participação no BCP imputada ao banco estatal era ainda maior devido às ações detidas para compra e venda por parte da área de corretagem e de banca de investimento do grupo.
"Concluímos que devíamos fazer um esforço para vender a nossa participação no BCP", assinalou.
Vara revelou que o então presidente do BCP (Paulo Teixeira Pinto) "deu conta que a CGD estava a desinvestir no BCP", tendo falado acerca do assunto com Santos Ferreira, que lhe disse para falar com Vara, que estava com a pasta das participações financeiras do banco estatal.
"Teixeira Pinto ligou-me e fui ter com ele. Ele deu-me conta da sua grande preocupação com a venda das ações. Eu disse-lhe que não íamos fazer tudo de repente, porque vender uma posição daquela dimensão teria impacto na bolsa. Ele disse que compreendia a nossa posição, mas pediu para pelo menos não descermos abaixo dos 2% durante uns tempos. Ele entendia que uma participação qualificada da CGD no banco era um sinal para qualquer banco privado exterior lançar uma OPA", acrescentou.
Armando Vara disse que decidiram "continuar a vender calmamente até chegar aos 2%".
Em meados de janeiro, nesta comissão de inquérito, Santos Ferreira, que depois liderou o BCP, recusou que o banco estatal tenha tido influência no desfecho da luta pelo poder no banco privado.
Na altura, questionado sobre a concessão de crédito por parte da CGD para acionistas do BCP adquirirem títulos do banco privado, como Joe Berardo, numa altura em que havia uma "luta de poder" no banco fundado por Jorge Jardim Gonçalves, Santos Ferreira desvalorizou-a.
"Os financiamentos destinados à compra de ações eram legais e são legais. Eram normais na maioria e, só não digo em todas porque não tenho a certeza, das instituições nacionais e estrangeiras. Tenho a profunda convicção que todos esses financiamentos foram aprovados seguindo os preceitos que estavam estabelecidos", afirmou o antigo líder do banco estatal.
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