Lançada em Lisboa em julho de 2019 e, nesse mesmo ano, em outubro no Porto, a LUGGit transporta e gere as bagagens dos turistas urbanos através de serviços de recolha e entrega de malas em qualquer ponto da cidade, à distância de um clique numa aplicação. Esta era uma startup com uma trajetória crescente, com uma ronda de investimento em novembro a angariar-lhes 400 mil euros.

Nos planos, tinham apontado janeiro de 2020 como o período em que os serviços começariam a funcionar a 100% — dois meses antes de tudo acontecer. A LUGGit não sabia, mas o negócio estava prestes a mudar quando, no dia 18 de março de 2020, foi decretado o estado de emergência em Portugal.

No início do surto da COVID-19 em Portugal, a startup lançou o #Wemoveit, um serviço que usa as infraestruturas da LUGGit para facilitar o transporte de bens entre indivíduos e famílias. Assim, durante o estado de emergência, foi possível fazer estes transportes de forma segura, contribuindo para preservar as regras da quarentena. Este serviço liga o keeper, a pessoa responsável pelo transporte, a um utilizador. O valor do serviço reverte totalmente a favor do primeiro. Desta forma, os funcionários puderam continuar a ter rendimentos, numa altura em que a atividade da startup estava paralisada.

O #Wemoveit, inicialmente, estava disponível na Grande Lisboa e no Grande Porto, e rapidamente expandiu, por via de voluntários, para outros distritos.

Para explicar como a LUGGit conseguiu ultrapassar este período, a Startup Portugal entrevistou Ricardo Figueiredo, co-Founder & CEO da empresa.

Qual o impacto que a pandemia teve na LUGGit?

O impacto foi 100% negativo na operação. Quando nos demos conta de que isto ia acontecer, percebemos que a LUGGit não iria ficar com poucos clientes, iria ficar sem nenhum cliente. Com as fronteiras fechadas, não iria haver turistas, e com o confinamento ninguém iria viajar.

Tinham noção de que, com o estado de emergência decretado e com as notícias que saíam, tinham de fazer algo?

Havia claramente a noção de que este estado de emergência ia acontecer, que as pessoas iriam ficar confinadas. Nós próprios, na quinta-feira anterior a ser declarado o estado de emergência [quarta-feira, dia 18 de março], já estávamos em casa e sabíamos que a maioria o ia fazer também. Consequentemente, o turismo ia diminuir muito. Nesse momento, começámos a pensar e, no domingo à tarde [15 de março], o plano começou a definir-se.

Qual foi a vossa maior preocupação?

As pessoas que trabalhavam connosco e os nossos clientes. Criámos um serviço de forma a garantir uma fonte de rendimento que permitisse que a nossa rede trabalhasse. Eles precisam disso. Tínhamos condutores e uma plataforma que podia ajudar de alguma forma quem iria ficar em casa. E assim nasceu o #Wemoveit.

O que é que esta pandemia trouxe de bom para a LUGGit?

Senti uma grande coesão da equipa e vontade de fazer isto acontecer. Esta pandemia unificou equipas. O serviço foi lançado num dia. Posso dizer que, entre fazer comunicações e gerir os serviços que começavam a cair, todos se mobilizaram e fizeram as coisas de uma forma eficaz e coerente. As pessoas sentem-se bem a fazer o bem e a nossa preocupação era que a equipa se sentisse bem. [Se não fosse a criação deste serviço], eles iriam para casa isolados. Nós sabíamos que não seria fácil. Não estávamos a lutar só contra um vírus, ou contra uma crise a nível nacional. Nós próprios, enquanto trabalhadores, iríamos enfrentar o confinamento e uma realidade que não conhecíamos. Era fácil desmoralizar.

Depois disto, e agora que estamos aos poucos a entrar na nossa realidade com muitas restrições, o que pensam fazer?

Quando o #Wemoveit entrou em velocidade de cruzeiro e conseguimos ter tempo para pensar e analisar o mercado, percebemos as necessidades que as pessoas vão ter depois disto. Neste momento, estamos a redefinir o nosso produto. Inicialmente era orientado para o consumidor, mas face a este tempo estamos a criar novos serviços para que o setor hoteleiro utilize a LUGGit, e acreditamos que isso vai impulsionar bastante o nosso crescimento.

O #Wemoveit vai continuar?

(risos) Não vamos continuar com o #Wemoveit, ainda que tenha sido uma oportunidade. Não é, de todo, um negócio com espaço para crescer, até porque existem muitas empresas que prestam este tipo de serviços, que também se redefiniram e se viraram para as entregas. Nós acreditamos que as pessoas querem viajar sem carregar as suas bagagens, portanto a LUGGit faz todo o sentido. Não iremos destoar da nossa visão. Fizemos isto, foi bom, mas vamos voltar e vamos continuar fiéis ao nosso negócio.

Que pontos negativos veem nestes últimos meses?

O grande ponto negativo foi, claro, estarmos a crescer, o que nos permitia almejar alguma segurança num futuro próximo. De repente, vimos tudo a atrasar. Vamos ter de voltar ao início da LUGGit, a julho de 2019, mas começamos com novas ideias e com muita vontade. Aos poucos vamos voltar à “normalidade”, mas existe tanto que ainda não sabemos... O mundo que conhecíamos não vai voltar a ser o mesmo.