No âmbito da terceira fase de desconfinamento, em outubro, os restaurantes, à semelhança das lojas, deixaram de estar sujeitos a restrições de horários e de limitação de clientes.
“A questão dos horários reduzidos deve-se aqui, no fundo, a alguma eficiência de meios. Os restaurantes encurtaram o período, adaptaram os negócios e os hábitos de consumo também mudaram. Os portugueses acabam por seguir um pouco a tendência dos turistas, que é ir mais cedo almoçar ou jantar e terminar mais cedo”, afirmou o presidente da PRO.VAR, Daniel Serra, em declarações à agência Lusa.
A pandemia de covid-19 trouxe assim novos hábitos aos consumidores, criando-se em Portugal, à semelhança do que já acontecia, por exemplo, em Espanha, o hábito de as pessoas se encontrarem ao final do dia em bares e restaurantes para poderem ter uma “experiência de socialização”, mas as refeições são mais curtas.
“As ruas de restaurantes, habitualmente, aos fins de semana, pela noite dentro, estavam com clientes e hoje aquilo a que assistimos é que essa experiência é muito mais curta”, apontou a PRO.VAR.
O mesmo acontece nos espaços de restauração instalados nos centros comerciais, que “vivem em situação de dificuldade” porque as pessoas visitam estes locais para fazer compras, “mas não ficam tanto tempo”.
A isto soma-se a falta de mão de obra para conseguir garantir o horário normal dos restaurantes.
“Algumas alterações de horário que têm sido feitas […] decorrem de questões internas de gestão de pessoal. Os espaços queixam-se de falta de pessoal para conseguirem garantir as duas refeições e, portanto, fazem uma gestão”, explicou a vice-presidente executiva da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT), Inês Sá Ribeiro.
Neste sentido, os restaurantes acabam por decidir, mediante o seu negócio, se optam por encerrar ao almoço ou ao jantar.
Inês Sá Ribeiro notou ainda que esta situação foi agravada pela pandemia, com o regresso de muitos estrangeiros aos seus países de origem.
Conforme apontou, os restaurantes e os consumidores acabaram por se adaptar às novas realidades, nomeadamente em termos de horário, espaço e opções de venda, como o ‘take-away’, uma realidade que veio para ficar.
“A indicação que temos dos espaços que se dedicaram mais ao ‘take-away’ […] é que, efetivamente, a procura se manteve. A mesma coisa em relação às esplanadas. Há aqui hábitos, ao que tudo indica, que se irão manter”, afirmou.
No mesmo sentido, a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, acredita que os hábitos mudaram em função da pandemia, mas alertou para que o reforço de formas de venda como o ‘take-away’ ou o ‘delivery’ não é a solução para o setor.
“É claro que os hábitos mudaram. Clientes que não tinham hábito de fazer refeições por esta via, se calhar, hoje fazem com mais frequência. Veio para ficar, mas não pode ser, para a maioria dos estabelecimentos, a única via”, vincou.
Ana Jacinto lembrou que a operação dos estabelecimentos não foi pensada para este tipo de venda, sublinhando que existe uma “rentabilidade mínima” com as comissões cobradas pelas plataformas digitais.
Este impacto é maior no caso dos restaurantes tradicionais que, tendo apenas estas opções de venda, têm que proceder ao reajustamento do menu.
O ‘take-away’ “é uma modalidade de venda que se acentuou e que vai ter mais gente do que antes da pandemia. Até agora, se calhar, muita gente vai ficar em casa e vai encomendar refeições e vai aos supermercados porque têm que fazer testes [para comer nos restaurantes] e não estão para isso”, acrescentou.
Ainda no que se refere às novas medidas, que entram em vigor a seguir ao Natal, para conter a propagação da pandemia de covid-19, as três associações mostram-se apreensivas e pedem mais apoios.
Em causa está, por exemplo, a apresentação de um teste negativo à covid-19 no acesso a restaurantes, hotéis, alojamento local e casinos.
A lotação dos espaços comerciais vai, por sua vez, passar a ser limitada a uma pessoa por cada cinco metros quadrados.
“Nós, AHRESP, desde o início, que não contestamos medidas de caráter sanitário porque o Governo é que tem a informação […], mas começa a ser difícil entender algumas medidas. Tendo o Governo decidido tomá-las, tem que equilibrar a saúde com a economia. Não é só anunciar medidas, é metê-las em prática. Nós temos anúncios de medidas de há um ano atrás que ainda não entraram nas empresas à data de hoje”, disse à Lusa Ana Jacinto.
Por sua vez, a APHORT referiu que o setor “está cansado e desanimado” com as medidas, que “vão trazer bastante transtorno”. As medidas dão a sensação de “que nos querem fechar, sem nos fecharem e isso depois não dá direito a apoios”, afirmou Inês Sá Ribeiro.
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