"Ampliamos esta maravilha", afirmou Quijano, exultante, sobre o Canal, no fim da gigantesca obra iniciada em 2007 para acrescentar uma terceira via às duas originais. "Este é um grande passo para um país pequeno e isso é que nos enche de orgulho, o que pudemos fazer", acrescentou em entrevista.
O novo Canal, inaugurado neste domingo, permitirá que navios de até 14.000 contentores, o triplo da capacidade atual, possam atravessar os 80 quilómetros entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe. A inauguração acontece com a reputação do Panamá como importante centro financeiro internacional a ser questionada após a divulgação dos chamados "Panama Papers". Estes documentos mostraram como um escritório de advocacia panamenho criava sociedades fachada que permitiam que políticos e celebridades do mundo inteiro conseguissem escapar aos impostos dos seus países. "Estamos a mostrar o verdadeiro rosto do panamenho ao mundo e isso deverá ter um efeito positivo sobre a imagem do país a as adversidades por que temos passado", afirmou.
Quijano, que trabalha no Canal desde 1975, conhece como ninguém o projeto de ampliação. "Entre 97% e 98% da frota de porta-contentores que existem por aí a mover mercadoria cabem nas novas eclusas do canal. E com isso vamos fazer um bom negócio", disse.
O projeto consiste na construção de uma terceira via para novos navios neopanamax, equivalentes a quatro campos de futebol. Segundo o consórcio responsável pelas obras, foram utilizadas 2,5 vezes mais betão do que o volume da pirâmide de Keops e uma quantidade de aço equivalente a 20 torres Eiffel.
Para Quijano as eclusas do novo Canal são as mais complexas do mundo.
O negócio
"Os principais aumentos que vamos ver através da ampliação são no manejo de porta-contentores, gás liquefeito de petróleo e gás natural liquefeito", explicou Quijano. Com o canal ampliado, o Estado panamenho pretende em uma década triplicar o valor de 1 milhar de milhões de dólares recebidos anualmente pelo pedágio das embarcações. "No primeiro ano de operações é muito possível que cheguemos a valores de 1,4 ou 1,5 mil milhões de dólares, que pouco a pouco irão aumentando", disse. "Entretanto, isso dependerá do crescimento dos países que abastecem o Canal do Panamá", disse o engenheiro industrial.
Quijano estima que o novo Canal permitirá duplicar em uma década os mais de 300 milhões de toneladas de carga que passam anualmente pela via e baixar "significativamente" o custo, porque serão necessárias menos viagens para o trânsito de mercadorias. Quijano disse ainda que, com a ampliação, o Panamá espera recuperar "uma boa parte" do negócio que migrou para o Canal de Suez, porque a rota panamenha permite um economia de 15 dias para os navios que vão da Ásia para a costa leste dos Estados Unidos. "Essa é uma economia muito significativa agora que estamos conscientes da proteção do meio ambiente, porque também são menos emissões poluentes", argumentou Quijano.
Mais caro do que o previsto
A ampliação não foi um mar de rosas. A inauguração acontece com 20 meses de atraso e o custo inicial, de 5,25 mil milhões de dólares, já foi ultrapassado em 200 milhões por reivindicações do consórcio Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), principal contratista. "Quando somamos tudo dá 5,45 milhões de dólares de dólares, com a projeção dos pagamentos que faremos ao GUPC e deixando pendentes maiores reivindicações que eles têm por resolver", afirmou Quijano.
O administrador do canal panamenho lembra com certa amargura que o GUPC, liderado pela espanhola Sacyr e pela italiana Salini Impregilio, paralisou a obra em 2014 por denúncias de custos superiores, que agora ultrapassam 3,5 mil milhões de dólares. "Eu nunca tive dúvidas de que a obra iria terminar, o problema era quando". "Mas a história deu-nos a razão e a satisfação de ver a obra praticamente concluída", revelou Quijano. Pelo Canal de Panamá, inaugurado en 1914, passa 5% do comércio marítimo mundial. Os seus principais utilizadores são os Estados Unidos e a China.
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