“Curiosamente a seca não afetou a produção de vinhos e […] Portugal andou em contracorrente em relação ao resto do mundo. A maior parte dos países tiveram quebras de produção, mesmo na Europa. Já Portugal […] fechou 2017 com 6,6 milhões de hectolitros, mais 10% do que no ano anterior. [As exportações] fecharam com uma subida de 7,5% para 778 milhões de euros”, disse Jorge Monteiro em entrevista à Lusa.
Conforme explica o dirigente, a situação explica-se com “as temperaturas amenas sentidas nas noites de verão”, que permitiram que as plantas recuperassem a situação de pressão vivida durante o dia.
No entanto, Jorge Monteiro garante que os vinicultores começam a preparar-se para as consequências dos fenómenos climáticos.
“O setor tem vindo a explorar a adaptação das castas às novas alterações. A consciência para as alterações climáticas tem vindo a acentuar-se nos últimos tempos, mas daqui a 20 anos vamos começar a sentir na vinha as consequências do aquecimento global”, notou.
De acordo com o responsável, França é principal destino dos vinhos nacionais, representando 109 milhões de euros, seguida pelo Reino Unido (79 milhões de euros).
“Na nossa estratégia, há uma preocupação crescente com a diversificação. Mercados como o Japão ou a Coreia do Sul ainda têm pequeno valor mas apresentam um grande potencial. Por exemplo, já fechámos o mercado da China com 22 milhões, já vale mais que o mercado da Dinamarca. Quando há mercados saturados, temos que procurar mercados emergentes”, indicou.
Para o presidente da Viniportugal, Portugal tem alguns condicionamentos no que concerne à exportação, mas vinca a existência de uma maior valorização do produto.
“A vinicultura é uma atividade sujeita a certificação, por isso, nós não podemos plantar a correr para responder ao crescimento do mercado. Por outro lado, mesmo que se faça uma plantação hoje, só daqui a seis ou sete anos é que a produção será plena. [Porém], a exportação de vinhos certificados é o fenómeno mais curioso, porque se faz à custa de uma menor exportação de vinhos mais baratos, o que traduz uma maior valorização do produto”, referiu.
Segundo os dados da associação, dentro das categorias de vinho, os licorosos são os que têm demonstrado um menor crescimento, - inferior a 2% ao ano -, valor que se justifica com maturação e consequente estagnação do mercado.
Já os vinhos espumantes apresentam um potencial de crescimento, com a taxa do crescimento anual do mercado a situar-se entre os 5 e 6%.
Por sua vez, o consumo no mercado nacional não consegue competir com os valores de exportações.
“Não existem dados exatos para o mercado nacional, mas podemos afirmar que representa cerca de 630 milhões de euros. Exportamos mais do que aquilo que consumimos e o mercado nacional está estagnado. Portanto, a resposta é mesmo a exportação”, disse Jorge Monteiro.
Para dar continuidade as ações de promoção internacional do vinho português, a Viniportugal tem um orçamento na ordem dos sete milhões de euros.
Entre as ações agendadas para 2018, encontram-se a presença em feiras e provas na Alemanha, Canadá, Rússia e Brasil.
“[Em 2018] esperamos continuar a crescer a este ritmo, a perceção que temos é que estamos no caminho certo. Há que olhar para os [novos] mercados como uma alternativa àqueles em que estamos a trabalhar e, à medida que ganhamos notoriedade, investir mais nos eventos destinados ao consumidor e menos nos que são destinados aos profissionais”, concluiu.
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