Num inquérito realizado a 531 pessoas entre 27 e 31 de março a IDC quis "medir o pulso" às organizações e empresas portuguesas. As conclusões do estudo foram apresentadas hoje, dia em que foi aprovado o prolongamento do Estado de Emergência por mais 15 dias, até 17 de abril, pela Assembleia da República.
O objetivo é travar a propagação do surto de covid-19, mas isso está também a travar a economia. António Costa dizia esta quarta-feira em entrevista que "é preciso salvar vidas sem destruir a vida", referindo-se desta forma ao impacto económico desta crise de saúde pública.
Segundo as conclusões deste estudo, a maioria das organizações e empresas nacionais está convencida de que o surto pandémico irá terminar no segundo semestre deste ano (87%), sendo que 53% aposta mesmo no final de 2020.
Coincidentemente, a expectativa de um regresso à normalidade na vida das empresas e organizações é projetada por 75% dos inquiridos para a mesma altura. No entanto, 20% considera que só 2021 trará boas notícias nesta matéria.
E o facto é que a maioria das empresas já viu a sua atividade afetada por este surto — apenas 39,5% considera ser possível seguir com a atividade normalmente nos próximos meses, mesmo que isso implique ligeiras alterações.
Pelo contrário, quase 55% das organizações e empresas consideram prosseguir, mas com operações reduzidas, e adiantam sentir já grandes constrangimentos. 6% adiantam que as suas atividades já foram ou vão ser interrompidas.
As empresas que esperam maiores impactos nas operações do dia a dia são nas áreas da distribuição, retalho, indústria e construção. Já a banca, serviços e os media consideram ser possível manter a atividade sem grandes alterações.
Isto também se explica por haver atividades em que adaptação do negócio a esta crise é mais difícil. Quase 61% das organizações implementou planos de contingência e tal passou pela adoção de trabalho remoto, a proibição de participação em eventos, a proibição de viagens, a implementação de novos canais de comunicação com os trabalhadores e até pelo encerramento das instalações em que a organização operava.
De assinalar que em algumas atividades, como a distribuição, retalho ou construção civil o encerramento das instalações de trabalho ou o teletrabalho nem sempre são compatíveis com a manutenção da atividade da empresa — algo que, por exemplo, é mais fácil nas área dos serviços.
As preocupações das empresas e organizações prendem-se sobretudo com o impacto desta pandemia nas receitas e nos lucros, sendo que mais de 50% ainda considera ser de destacar o abalo ao nível dos seus clientes, das suas operações e nos colaboradores.
A expectativa da maioria (90%) é mesmo de que a pandemia venha a provocar uma recessão global com impacto financeiro na sua organização. Mais de 40% dos inquiridos antecipa uma redução do consumo e uma diminuição da confiança dos consumidores, assim como problemas nas cadeias de abastecimento.
O facto é que menos de 60% das empresas e organizações se consideram preparadas ou muito preparadas para manter o negócio e o relacionamento com os clientes durante este período pandémico. Aliás, menos de 70% dizem-se preparadas para manter as operações críticas do negócio. As maiores dificuldades são mesmo sentidas ao nível da estabilização da cadeia de abastecimento (menos de 40% se considera preparado para o fazer) e ao nível da proteção dos trabalhadores (menos de 50% se considera capaz de o garantir nesta fase).
Mas o que estão as empresas a fazer para resistir? A resposta de quase 80% passa por reforçar os canais digitais — e quem não tem está a criá-los, encontrando aqui uma forma de comunicar com os clientes, agora confinados em casa.
No atual contexto — e como seria expectável —, quase 76% das empresas reviram as suas prioridades de negócio para os próximos 12 meses ou estão agora a pensar fazê-lo. No caso da distribuição, a principal preocupação prende-se agora com identificar e reduzir custos. Para o setor financeiro e para a administração pública a resposta pode passar por melhorar a eficiência operacional. Na Indústria, a preocupação de base é mesmo a de não fechar portas, ou seja, assegurar a continuidade do negócio. Nos serviços e nas empresas de media e telecomunicações a chave está em atrair e reter clientes.
No que diz respeito especificamente ao setor das tecnologias de informação, 58,6% dos inquiridos assume que está a rever ou a pensar rever o seu orçamento de 2020 para esta área, e a repensar (63%) as suas prioridades neste departamento.
Mas afinal quais são as indústrias mais afetadas por esta crise sanitária? Segundo um estudo citado pela IDC, o retalho e a distribuição são as áreas de negócio onde se antecipa um impacto negativo maior — com a salvaguarda de serem negócios em que se pode recorrer às compras online para compensar. Na indústria e na construção, os principais desafios são ao nível da falta de mão-de-obra, problemas na cadeia de abastecimento de material e também de procura por parte do mercado dos seus produtos.
Ao nível dos serviços ao consumidor — como aliás é já visível no dia-a-dia — este surto obrigou a restringir viagens, fechar escolas e outros serviços, restringindo a sua atividade. No setor financeiro, o principal impacto está ao nível da gestão de funcionários.
Apesar da enorme pressão em que se encontra neste momento, a administração pública é o setor onde se podem antecipar mais apoios à atividade para contrariar o impacto da pandemia.
(Notícia atualizada às 11:38 com a aprovação na Assembleia da República do prolongamento do Estado de Emergência até 17 de abril)
Comentários