Numa intervenção sobre “O futuro de Portugal” conduzida pela correspondente da Reuters em Portugal, Rui Rio foi questionado sobre as dificuldades atuais da União Europeia devido ao impasse com a Hungria e Polónia, que bloquearam a aprovação do orçamento plurianual da UE para 2021-2027 (1,08 biliões de euros) e do Fundo de Recuperação pós-pandemia que lhe está associado (750 mil milhões) por discordarem da condicionalidade no acesso aos fundos comunitários ao respeito pelo Estado de Direito.

“O Estado de Direito é e tem de ser uma prioridade para a União Europeia, não tenho dúvidas acerca disso. O problema é se este é o momento de misturar os fundos de recuperação, os fundos destinados a ajudar a economia dos Estados membros, se é uma boa ideia misturar [esse tema] com o Estado de Direito, ainda que o Estado de Direito seja muito, muito importante”, afirmou.

Ainda assim, o líder do PSD considerou que foi “uma vitória para a União Europeia” ter conseguido um plano conjunto de resposta à crise provocada pela pandemia de covid-19.

“Sem estes fundos, o tema seria se há algum futuro para a Europa e a resposta seria não”, considerou.

Sobre a atitude do PSD de colaboração com o Governo ao longo da crise pandémica, Rio fez questão de distinguir dois momentos.

“A diferença é que, em março e abril, não critiquei o Governo, porque nessa altura não tínhamos ‘know how’ [sobre a covid-19] e sabia que nessa altura não poderia ter feito melhor que o nosso primeiro-ministro, não era justo, não era honesto criticar. Agora é diferente, agora ajudo, coopero com o Governo, mas posso criticar porque sei que faria um pouco melhor”, disse, reiterando que o Governo cometeu “um erro” e não planeou atempadamente a segunda vaga.

Como prioridades para os fundos europeus, o líder do PSD defendeu, como tem feito nos últimos meses, que “a primeira tem de ser as empresas” para reindustrializar e modernizar a economia portuguesa e só depois o investimento público, em setores como a ferrovia ou os portos.

Questionado se teme que esta crise provoque uma nova vaga de emigração jovem, Rio respondeu afirmativamente, embora alertando que, ao contrário da anterior, esta crise é generalizada na Europa.

“A solução é oferecer melhores salários e melhores empregos”, disse, apontando que tal só será possível com empresas mais competitivas pelos bens que produzem e não pela mão de obra barata.

Rui Rio recusou ainda que, antes da pandemia, existisse qualquer milagre económico em Portugal.

“Não, não tivemos nenhum milagre, o crescimento económico em Portugal este século foi zero”, afirmou, apontando que, se nos últimos anos, se tinha registado um “crescimento ligeiro”, tal não pode ser classificado como um milagre.

A Web Summit, considerada uma das maiores cimeiras tecnológicas do mundo, realiza-se este ano totalmente ‘online’ com “um público estimado de 100 mil” pessoas.

A cimeira tecnológica teve início hoje e decorre até 04 de dezembro.

Após duas edições realizadas em Lisboa (2016 e 2017), a Web Summit e o Governo Português anunciaram, em outubro de 2018, uma parceria a dez anos que permite manter a conferência na capital Portuguesa até 2028.