"Na Assembleia-Geral (AG) em que eu fui eleito [como presidente do BCP], esteve presente 71,5% do capital do BCP. No ponto da eleição do Conselho de Administração votou 71,4% do capital do BCP. A lista que eu encabeçava obteve 97,7% dos votos presentes e a lista rival 2,1%", afirmou o gestor durante a sua audição hoje na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD.
"Sei quem eram os grandes acionistas do BCP nesse momento. Não sei como é que votaram, porque o voto é secreto, mas sei quais eram os acionistas qualificados presentes", sublinhou, apontando para o Grupo BPI, a Eureko, a Teixeira Duarte, Joe Berardo, a Sonangol, o Sabadell, a EDP e o UBS.
Carlos Santos Ferreira realçou que "não foram de certeza nem as ações detidas em carteira pela Caixa, nem as ações financiadas [pela CGD], que fizeram a diferença entre 97% e 2% dos votos com mais de 70% do capital".
Questionado sobre a concessão de crédito por parte da CGD para acionistas do BCP adquirirem títulos do banco privado, numa altura em que havia uma "luta de poder" no banco fundado por Jorge Jardim Gonçalves, Santos Ferreira desvalorizou-a.
"Os financiamentos destinados à compra de ações eram legais e são legais. Eram normais na maioria e, só não digo em todas porque não tenho a certeza, das instituições nacionais e estrangeiras. Tenho a profunda convicção que todos esses financiamentos foram aprovados seguindo os preceitos que estavam estabelecidos", afirmou.
E acrescentou: "Nenhum - não tenho memória concreta, mas tenho a convicção - destes financiamentos tinha garantias inferiores ao crédito. E tenho a grande convicção de que em todos os casos havia a obrigação de, que caso o valor da garantia diminuísse, o mutuário tinha que repor a sua parte com outros ativos que fossem aceites pela Caixa".
Santos Ferreira lamentou ter-se mantido em silêncio sobre o tema durante vários anos.
"Passei vários anos a ouvir falar do assalto ao BCP. Achei mal, mas achei que não me cabia explicar o que se tinha passado. Se tivesse explicado logo na altura, provavelmente hoje não estaríamos a falar nele aqui", salientou.
Segundo o responsável, por altura da sua transição da CGD para o BCP, a CGD tinha ações próprias do BCP na ordem dos 2,5% do capital do banco e cerca de 8% de ações cativas através de financiamentos.
Santos Ferreira entrou para a CGD no verão de 2005, substituindo Vítor Martins, e saiu em dezembro de 2007, a poucos dias de terminar o seu mandato, sendo depois eleito líder do BCP.
"Não cumpri o meu mandato por três dias", vincou, considerando que tinha "relações normais" com o ministro da tutela, Teixeira dos Santos.
Carlos Santos Ferreira disse que nunca lhe "passou pela discutir atos de gestão com o acionista".
"Tinha conversas recorrentes com o senhor ministro. Por exemplo, nunca apoiei o banco postal", revelou, afastando depois qualquer interferência governamental nas decisões de crédito da CGD.
Santos Ferreira garantiu que "nunca" sentiu pressão [para conceder financiamento].
"Mais do que isso, nunca o ministro das Finanças me referiu qualquer caso de crédito que devesse ou não ser atribuído", rematou.
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