Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Sonae refere que a "queda no resultado líquido é explicada exclusivamente pelo registo prudente de contingências contabilísticas ('non-cash'), no total de 76 milhões de euros, diretamente relacionadas com a pandemia covid-19 e, em particular, com o encerramento forçado da atividade em vários negócios".
A Sonae refere que "excluindo estes impactos contabilizados por prudência, e apesar do encerramento forçado de algumas operações, o resultado líquido da Sonae estaria em linha com o ano anterior". No primeiro trimestre de 2019, o grupo registou lucros de 18 milhões de euros.
O volume de negócios subiu 7,1% no período em análise, para 1.552 milhões de euros, "impulsionado sobretudo pelo forte contributo da Sonae MC (+14% em termos homólogos)".
O resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) caiu 4,6% para 128 milhões de euros, "uma vez que o impacto do menor resultado pelo método de equivalência patrimonial superou o impacto positivo da mais-valia resultante da transação Prime da Sonae Sierra", refere o grupo que tem a cadeia Continente, salientando que "a linha de resultado pela equivalência patrimonial foi negativamente impactada pelo resultado líquido" da operadora de telecomunicações NOS no trimestre, "que inclui já contingências relacionadas com o surto pandémico".
A dona da cadeia de supermercados Continente refere que o desempenho da Sonae no trimestre foi marcado por dois momentos distintos: "o período de janeiro e fevereiro, com desempenhos positivos em todos negócios" e "o período desde março, com o início do surto de covid-19, marcado pelo forte impacto em alguns dos negócios, positivo no caso do desempenho de vendas da Sonae MC e negativo na Sonae Sierra, na Worten em Espanha e na Sonae Fashion, visto terem sido forçados a suspender as suas operações desde meados do mês".
Relativamente ao EBITDA subjacente, a Sonae terminou o trimestre com 100 milhões de euros, menos 2,4% face a 2019, sendo que "esta ligeira redução é mais do que explicada pela desconsolidação de dois centros comerciais (consequência da transação Prime) nas contas estatutárias da Sonae Sierra". Sem este impacto contabilístico, o EBITDA subjacente do grupo "teria crescido 5%, apesar do forte impacto da pandemia na rentabilidade operacional da Sonae Fashion desde meados de março", explica.
A Sonae adianta que o resultado direto foi também "significativamente impactado por provisões extraordinárias para 'stocks', tanto na Worten como na Sonae Fashion, diretamente relacionadas" com a pandemia.
"No total, e por razões de prudência num tempo de grande incerteza, foram registados 44 milhões de euros de provisões para 'stocks' no trimestre", explica o grupo.
O resultado indireto "foi impactado por provisões no montante de 18 milhões de euros relacionadas com projetos de desenvolvimento da Sonae Sierra – uma vez mais em resultado de uma visão prudente do potencial impacto da atual pandemia nos projetos em curso".
A dívida líquida total diminuiu 468 milhões de euros em termos homólogos, ou 27,5%, para 1.233 milhões de euros.
O investimento no trimestre foi de 60 milhões de euros, dos quais 46 milhões realizados pela Sonae MC (que tem o Continente).
"O importante papel social da Sonae e das suas participadas traduziu-se também ao nível do emprego, sendo de destacar a criação de mais de 2.000 postos de trabalho na área de retalho alimentar nos últimos 12 meses", refere.
A Sonae MC (retalho alimentar) cresceu 14% , para 1.194 milhões de euros, "apesar de formatos fechados e condicionamentos devido à pandemia", salienta o grupo.
"Após um bom começo de ano, com um forte desempenho das vendas em janeiro e fevereiro, a primeira quinzena de março registou níveis de crescimento sem precedentes. Neste período, os formatos de retalho alimentar registaram crescimentos de vendas LfL ['like-for-like', ou seja, vendas em lojas que operaram sob as mesmas condições no período em análise] de dois dígitos, com o canal 'online' a atingir níveis extraordinários de encomendas que levaram a Sonae MC a triplicar a sua capacidade de entrega", explica a Sonae.
O EBITDA subjacente da Sonae MC foi de 96,5 milhões de euros.
No retalho de eletrónica, a Worten registou um volume de negócios de 232 milhões de euros, em linha com o ano passado.
A pandemia teve um "impacto muito significativo" nos negócios da Sonae Fashion, levando ao encerramento total das lojas, o que levou a "uma queda de 49% das vendas em março em termos homólogos". A Sonae adianta que "parte deste impacto severo nas vendas foi compensado por um desempenho muito positivo do canal 'online' e, assim, a Sonae Fashion" registou no trimestre um volume de negócios de 78 milhões de euros, menos 19% que um ano antes. O EBITDA subjacente foi de 900 mil euros.
Apesar de não poder apresentar informação detalhada sobre o desempenho operacional da ISRG - Iberian Sports Retail Group, adianta que "o negócio manteve o mesmo nível de desempenho dos trimestres anteriores, com taxas de crescimento de dois dígitos nas vendas e no EBITDA".
A Sonae FS "foi capaz de terminar o trimestre com um crescimento significativo face ao ano passado, com o volume de negócios a aumentar 14,4% para 9,4 milhões de euros e com o EBITDA subjacente a fixar-se em 2,1 milhões".
A Sonae IM registou um volume de negócios de 26 milhões de euros, abaixo do registo um ano antes.
Todos os negócios da Sonae "serão materialmente impactados"
A presidente executiva da Sonae, Cláudia Azevedo, afirmou hoje que os "próximos meses serão duros" e que todos os negócios do grupo serão, "de uma forma ou outra, materialmente impactados" pela pandemia de covid-19.
A Sonae passou de lucro a prejuízos de 59 milhões de euros no primeiro trimestre, devido a contingências relacionadas com a pandemia de covid-19, anunciou hoje o grupo.
No comunicado dos resultados do primeiro trimestre, Cláudia Azevedo refere que a pandemia coloca "todos à prova" e que a resposta coletiva "demonstra a capacidade" que o grupo tem de "unir forças e agir em conjunto por um propósito comum".
A executiva destaca, "em particular, os esforços notáveis" em "manter abertas todas as nossas lojas de retalho alimentar e eletrónica"; em "adaptar todas" as operações de 'e-commerce' de forma a sustentar um forte aumento de 3-5x nas vendas 'online'"; e manter as redes de telecomunicações [NOS] "a operar sob níveis recorde de tráfego".
Este contexto "demonstra também a qualidade e a resiliência do nosso portefólio de ativos. Em tempos difíceis para muitas empresas em todo o mundo, o portefólio diversificado de negócios líderes da Sonae oferece-nos a garantia de que iremos atravessar esta tempestade e sair dela mais fortes. Esta confiança é reforçada pela nossa abordagem conservadora em termos de alavancagem e financiamento, que nos permite enfrentar os próximos meses com os olhos postos no dia seguinte à crise", considera Cláudia Azevedo.
"No entanto, os próximos meses serão duros e todos os nossos negócios serão, de uma forma ou outra, materialmente impactados", aponta.
"Neste sentido, e por razões de prudência, registámos já no primeiro trimestre um conjunto significativo de contingências 'non cash', no sentido de antecipar futuros impactos, nomeadamente na NOS, Sonae Fashion, Worten e Sonae Sierra", prossegue a presidente executiva.
"Além disso, nesta fase todos os nossos negócios estão a implementar iniciativas de preservação de recursos financeiros, não deixando de cumprir compromissos anteriormente assumidos e sem perder de vista oportunidades de investimento atrativas. Dada a capacidade de adaptação que as nossas pessoas e os nossos negócios têm demonstrado, estou mais certa do que nunca de que superaremos esta adversidade e estaremos preparados para responder rapidamente às mudanças estruturais que, sem dúvida, moldarão o nosso futuro", considera a gestora.
Cláudia Azevedo recorda que, em março, a pandemia atingiu as principais geografias da Sonae num "desafio sem precedentes".
"Embora todos os nossos negócios tenham sido fortemente impactados por esta situação, tenho orgulho em afirmar que a nossa reação tem sido notável", nos últimos dois meses "testemunhei o modo como cada um dos nossos negócios e equipas se adaptou rapidamente a este novo contexto", destacou.
"Implementámos soluções de proteção para as nossas pessoas que estão na linha da frente e trabalho remoto para todas as funções de escritório. Mas, apesar de todas as medidas de segurança, algumas das nossas pessoas foram naturalmente atingidas por este vírus. Uma vez mais, seguimos rigorosamente todas as recomendações da Direção Geral da Saúde de forma a que todos tenham o melhor acompanhamento possível, ao mesmo tempo que minimizamos a possibilidade de contágio", prossegue.
"Este é um acompanhamento diário, permanente, e assim continuará a ser até estarmos livres desta pandemia", asseverou Cláudia Azevedo.
"Gostaria de agradecer novamente às nossas pessoas pela sua generosidade e perseverança. E também gostaria de aproveitar esta oportunidade para reconhecer os esforços e o compromisso do nosso ecossistema de parceiros, sem os quais não teríamos sido capazes de continuar a cumprir a nossa missão", remata a gestora.
O volume de negócios subiu 7,1% no período em análise, para 1.552 milhões de euros.
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