Falando durante uma audição na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, João Alves, da CT dos Serviços Portugueses de Handling (SPdH, comercialmente designada Groundforce Portugal) afirmou que “desde setembro/outubro” do ano passado que os salários da Groundforce têm vindo a ser pagos “devido ao pagamento de serviços prestados à TAP".
“Chegados ao mês de dezembro, estes já foram um adiantamento de pagamento de serviços, ou seja, a TAP já estava a pagar por serviços que ainda não tinham sido prestados e esteve em causa o pagamento do subsídio de Natal até dia 15 de dezembro e dos impostos a dia 20”, precisou.
De acordo com João Alves, face a esta dependência, a TAP (acionista e maior cliente da Groundforce) enviou em dezembro à administração da empresa “um ‘mail’ dizendo que havia três condições para que continuassem a fazer o adiantamento: taxas de juro de 5% sobre esse valor, desconto de 5% sobre a fatura de janeiro e o abandono de um litígio não judicial que existe relativamente aos aviões que pernoitam nos aeroportos (‘night stop’)”.
“Mais tarde – acrescenta – colocam uma quarta imposição, em que era necessário que a Groundforce mostrasse também que ia aplicar as mesmas medidas aplicadas na TAP, como por exemplo despedimentos e o encerramento da escala de Faro.
Para a CT da Groundforce, “é inaceitável este tipo de imposições e até chantagens” por parte da TAP, sendo o empréstimo de 30 a 35 milhões de euros pedido com garantia do Estado “urgente para salvaguardar a continuidade da empresa e os 2.400 postos de trabalho” que assegura.
Sustentando que “o problema financeiro da empresa é conjuntural e não estrutural”, João Alves atribui as “grandes dificuldades de tesouraria” que esta atravessa à situação pandémica, recordando que desde “há seis anos que tem vindo a ter um saldo positivo, onde acumulou um total de 33 milhões de euros”.
E se, “entre apoios do ‘lay-off’ simplificado e do Apoio à Retoma, a empresa - com algumas medidas internas como a não renovação de cerca de 1.000 trabalhadores e um protocolo assinado por todos os sindicatos - foi conseguindo com os seus próprios recursos fazer face ao pagamento das suas obrigações”, o facto é que a redução progressiva dos apoios e a “receita cada vez menor” levaram à deterioração da situação.
Marco Moura, outro dos elementos da CT da SPdH que hoje foi ouvido na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, disse “não entender, nem aceitar que haja uma ‘guerra’ entre as administrações da SPdH e da TAP” em que esta última “pressiona” a administração da Groundforce “para mexer no acordo de empresa”.
“Não são os trabalhadores da Groundforce que têm de ser sacrificados. A Groundforce tem apresentado nos últimos 10 anos resultados líquidos positivos, tem aumentado em 35% o serviço de vendas e serviços prestados, tem aumentado 35% os movimentos assistidos e tem um EBTIDA de 146%”, tirando também daí a TAP “os seus dividendos” enquanto acionista, sustentou.
Segundo Marco Moura, “o problema da Groundforce é conjuntural, não estrutural, e o empréstimo que foi pedido é imperativo para evitar um cenário de incumprimento que possa por em causa todas as ajudas recebidas até ao momento e evitar chegar a um ponto de insolvência da empresa, que causaria o despedimento de 2.400 trabalhadores”.
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