“Restaurante Vinhas d’Alho não pagou os salários de março, abril e maio aos trabalhadores”, “Keep Shinning da limpeza de hotéis despediu centenas de trabalhadores” eram apenas algumas das denúncias cravadas nos cartazes que hoje foram exibidos por várias dezenas de trabalhadores do setor da hotelaria e restauração, bebidas e similares durante uma ação de protesto na Praça D. João I, no centro do Porto, onde foi aprovada uma resolução a exigir o pagamento dos salários em atraso e a reintegração dos trabalhadores despedidos durante a pandemia de covid-19.

Ana Catarina, funcionária de uma empresa que explora os bares de comboio da CP, diz que não entende porque é que continua em ‘lay-off’ a ganhar 500 euros quando podia retomar o trabalho. “A CP e a empresa não nos dão um motivo válido do porquê de não podermos ir trabalhar”, disse.

Joel Magalhães, que trabalha na confeitaria Ferreira, em Matosinhos, aos domingos é “pago por fora” e que viu o seu salário reduzido ao mínimo nacional.

Ana Catarina e Joel Magalhães são dois dos trabalhadores que esta manhã deram o seu testemunho na conferência de imprensa organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Industria de Hotelaria , Turismo, Restaurante e Similares do Norte, denunciando o que viveram e o que continuam a viver por causa da pandemia e da crise instalada no setor.

Em declarações aos jornalistas, Nuno Coelho, dirigente do Sindicato, indicou que houve pelo menos dois mil trabalhadores do setor que foram despedidos na região Norte como consequência da pandemia e que há cerca de cinco mil em ‘lay-off’, de 85 empresas que apresentaram o pedido correspondente.

Francisco Figueiredo, por seu turno, denunciou também na conferência de imprensa que há patrões que estão a “exigir aos seus trabalhadores que vão trabalhar em junho “sem receber os meses de março, abril e maio”.

“É uma situação violenta. Vamos exigir que Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) atue em conformidade com o seu estatuto legal (…,) que tem contribuído, e muito, para o clima de impunidade geral que existe no setor”, declarou, garantindo aos trabalhadores que podem “contar com a federação dos sindicatos de hotelaria e turismo e com os sindicatos a nível nacional para continuar” com o “combate” às “ilegalidades”, e anunciando que vão ser feitas ações futuras junto das empresas para obrigar a pagar os salários em atraso dos trabalhadores.

Os trabalhadores aprovaram hoje, na Praça D. João I, no Porto, uma resolução para entregar na ACT para exigir o “pagamento imediato dos salários em atraso a todos os trabalhadores” e o “adiantamento pelo Estado de um subsídio equivalente ao salário que auferiam a todos os trabalhadores cujas empresas não reabriram e que estão sem qualquer proteção social, incluindo trabalhadores não declarados, valores que devem depois ser repostos pelas empresas, a exemplo do que sucede com o fundo de garantia salarial”.

No documento de resolução, os trabalhadores também exigem a “reintegração de todos os trabalhadores despedidos com a antiguidade e categoria profissional como se nada houvera tido lugar”.

A “atuação exemplar” da ACT e a anulação de todos os atos do patronato que puseram em causa direitos dos trabalhadores, como a reposição de férias e a anulação de banco de horas, o “não prolongamento de ‘lay-off’ que ponha em causa o pagamento de 100% do salário e o reinício das negociações da contratação coletiva e aumentos salariais justos são os restantes pontos da resolução aprovada e entregue hoje na ACT do Porto.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 387 mil mortos e infetou mais de 6,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Em Portugal, morreram 1.455 pessoas das 33.592 confirmadas como infetadas, e há 20.323 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.