A Venezuela ordenou esta segunda-feira, 11 de Julho, a ocupação das instalações da norte-americana Kimberly-Clark no país, cujas operações foram suspensas devido à deterioração das condições económicas, escreve a AFP.

A decisão foi anunciada pelo ministro do Trabalho, Oswaldo Vera, nas instalações da multinacional em Maracay. "Vamos assinar a solicitação que nos foi feita pelos trabalhadores”, disse, acrescentando que a mesma prevê “a ocupação imediata da entidade de trabalho Kimberly-Clark da Venezuela (...) por parte dos trabalhadores”.

Entre aplausos, Vera ordenou que se voltassem a ligar as máquinas. "A partir de hoje, a Kimberly-Clark volta a abrir suas portas, a sua produção", disse, reiterando a advertência feita pelo presidente Nicolás Maduro, há dois meses, de intervir nas empresas que decidam paralisar a sua atividade.

"Bem-vindos ao setor empresarial que quer acompanhar o Governo (…), empresa que é fechada, é empresa que será ocupada e aberta pelos trabalhadores e pelo governo revolucionário", sustentou.

Explica a AFP que a lei venezuelana autoriza a ocupação de uma empresa no caso de "encerramento ilegal ou fraudulento".

A Kimberly-Clark paralisou as suas operações no último sábado e justificou a decisão com a “carência de divisas” para adquirir matéria-prima, e com o “rápido aumento da inflação”. Neste contexto, diz a multinacional, é "impossível operar”.

A Kimberly-Clark não descarta a possibilidade de retomar a atividade caso o contexto se altere, mas destaca que, face à ocupação, ”o governo venezuelano será o responsável pelo bem-estar dos trabalhadores e pelos ativos físicos, equipamentos e máquinas" da unidade ocupada.

Ainda esta segunda-feira, Maduro informou o país que o Citibank vai encerrar as contas utilizadas pelo Banco Central e pelo Banco da Venezuela.

"O Citibank, sem aviso, disse que em 30 dias vai encerrar a conta do Banco Central e do Banco da Venezuela”, anunciou o presidente, que responsabiliza Barack Obama pelo “boicote financeiro” ao país. Para Maduro, "tudo isto" faz parte da "obsessão da nova inquisição obamista" em relação à Venezuela.

"Vocês acreditam que nos vão conseguir travar ativando um boicote financeiro? Não, senhores, a Venezuela não será detida por ninguém. Com ou sem Citibank vamos seguir em frente. Com ou sem Kimberly, a Venezuela vai”, sustentou.

Maduro apontou também baterias à oposição, que está a promover um referendo revogatório do mandato do presidente : "O triste é que todos estes ataques são produto de um apelo da direita a uma intervenção na Venezuela", disse.

De acordo com a Fedecámaras - a principal associação empresarial venezuelana - mais de 85% da indústria estava paralisada em maio último por falta de matéria-prima.

Na Venezuela, o governo monopoliza a distribuição de divisas, cada vez mais escassas face à queda dos preços do petróleo, que gera 96% das receitas do país.

Além disso, acrescenta a AFP, o governo fixa o preço de muitos alimentos e produtos básicos, o que segundo os empresários inviabiliza os custos de produção.