O governante sublinhou esta sexta-feira que a Rússia deve pagar por cada casa, escola, hospital e negócio que destruir.

E defendeu que deve ser criado um mecanismo legal para que todos os que sofreram com as ações da Rússia possam receber uma compensação.

O chefe de Estado da Ucrânia salientou que, esta sexta-feira, o Exército russo disparou um míssil na região de Kharkiv, no nordeste, que destruiu um centro cultural em Lozova.

Mais cedo, através de uma mensagem na rede social Telegram, o Presidente ucraniano afirmou que “os ocupantes [russos] identificaram a cultura, a educação e a humanidade como seus inimigos”, contra os quais “não estão a poupar mísseis”.

Segundo o chefe de Estado ucraniano, o ataque resultou em sete feridos, incluindo uma criança.

Os ataques russos também atingiram as cidades de Odessa, no sul, Poltava, no leste, e Zhytomyr, no oeste, sublinhou, no seu discurso diário em vídeo, dirigido à nação.

Na região do Donbass, no leste da Ucrânia, onde os ataques russos estão concentrados, as forças de Moscovo transformaram as cidades de Rubizhne e Volnovakha em ruínas, tal como fizeram em Mariupol e estão a tentar fazer em Severodonetsk, alertou Volodymyr Zelensky.

As autoridades ucranianas tinham divulgado esta sexta-feira que pelo menos 13 pessoas morreram numa ofensiva militar lançada na quinta-feira pelas forças russas, numa tentativa de tomar o controlo de duas cidades na província de Lugansk.

O chefe da administração militar regional de Lugansk, Serhiy Gaidai, afirmou na plataforma de mensagens Telegram que “o inimigo está a realizar uma operação ofensiva nas áreas de Lisichansk e Severodonetsk” e salientou que “em toda a região de Lugansk há mais de 60 casas destruídas”.

As cidades de Severodonetsk e Lisichansk estão localizadas na província de Lugansk não controlada pela autoproclamada República Popular de Lugansk e é um dos principais alvos das forças russas.

A guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas — cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,3 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

Zelensky considera só a diplomacia poderá acabar com a guerra

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considerou hoje que só a diplomacia conseguirá pôr fim à guerra na Ucrânia, numa altura em que as negociações entre Moscovo e Kiev estão num impasse.

"O fim [do conflito] será diplomático", declarou Zelensky, numa entrevista a um canal de televisão ucraniano.

De acordo com o chefe de Estado ucraniano, a guerra "será sangrenta, continuarão os combates, mas só acabará definitivamente pela via diplomática".

“As discussões entre a Ucrânia e a Rússia terão de acontecer. Não sei em que formato: com intermediários, sem eles, num círculo mais amplo, ao nível presidencial", defendeu.

Segundo Zelensky, "há coisas que só podemos conseguir na mesa de negociações”.

“Queremos que tudo volte" para o período anterior ao início da invasão russa, em 24 de fevereiro, o que "a Rússia não quer", acrescentou, sem dar mais detalhes.

Os resultados dessas conversas - cujo assunto pode variar "dependendo do momento do encontro" - devem ser "justos" para a Ucrânia, destacou o Presidente.

Referindo-se a um documento sobre as garantias de segurança da Ucrânia, Zelensky afirmou que será assinado pelos "amigos e parceiros da Ucrânia, sem a Rússia", enquanto paralelamente haverá "uma discussão bilateral com a Rússia".

O Presidente da Ucrânia também lembrou ter-se tornado condição ‘sine qua non’ para a continuação das negociações que os soldados ucranianos entrincheirados no vasto complexo metalúrgico de Azovstal, em Mariupol, no sudeste da Ucrânia, não sejam mortos pelo exército russo.

"A coisa mais importante para mim é salvar o maior número possível de pessoas e soldados”, salientou.

Em 17 de maio, um assessor do Presidente ucraniano, Mykhaïlo Podoliak, indicou que as negociações entre Moscovo e Kiev estavam "em pausa", considerando que Moscovo não mostrava qualquer "compreensão" da situação.

No dia seguinte, o Kremlin acusou a Ucrânia de "total falta de vontade" em negociar com a Rússia para acabar com a invasão da Ucrânia.

Várias reuniões entre negociadores de ambos os lados têm acontecido, mas não produziram resultados concretos.

O último encontro entre os chefes das delegações - Vladimir Medinski do lado russo e David Arakhamia da Ucrânia - data de 22 de abril, segundo as agências de notícias russas.

Depois de não conseguir assumir o controlo de Kiev e da sua região, o exército russo concentrou agora os seus esforços numa ofensiva contra o leste da Ucrânia, onde os combates são intensos.

Estas declarações foram transmitidas no dia em que o primeiro-ministro português, António Costa, chegou a Kiev para manifestar solidariedade ao povo ucraniano e reunir-se com Volodymyr Zelensky.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou hoje que 3.811 civis morreram e 4.278 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.