
"A Comissão Europeia lançou uma consulta pública sobre uma lista de importações dos Estados Unidos que poderão ser alvo de medidas de retaliação por parte da UE, caso as negociações em curso [...] não resultem numa solução mutuamente benéfica e na eliminação das tarifas impostas" por Washington a produtos do espaço comunitário, anunciou hoje a instituição.
Em causa está uma "ampla gama de bens industriais e agrícolas" norte-americanos que são exportados para a UE, no valor de 95 mil milhões de euros.
A estes acrescem possíveis restrições a determinadas exportações da UE para os Estados Unidos, no valor de 4,4 mil milhões de euros, incluindo sucata de aço e produtos químicos.
De momento, decorrem negociações ao nível político e técnico entre Bruxelas e Washington, mas a UE já está a "preparar possíveis medidas de retaliação para proteger os seus consumidores e indústria, caso as negociações não tenham um desfecho satisfatório", indica a Comissão Europeia na nota à imprensa.
Por isso, a UE está já a iniciar um litígio na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os Estados Unidos, submetendo formalmente um pedido de consulta.
"A UE considera de forma inequívoca que estas tarifas violam gravemente as regras fundamentais da OMC. O objetivo da UE é reafirmar que as regras internacionais acordadas devem ser respeitadas e não podem ser unilateralmente ignoradas por nenhum membro" da organização, é ainda indicado.
A consulta pública decorre até 10 de junho.
O anúncio surge num momento de acentuadas tensões comerciais, depois dos anúncios de Donald Trump de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas, entretanto, suspensas por 90 dias.
A suspensão acalmou os mercados, que chegaram a registar graves perdas, e foi saudada e secundada pela UE, que suspendeu, durante o mesmo período e até meados de julho, as tarifas de 25% a produtos norte-americanos em resposta às aplicadas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio europeus.
A Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial da UE, tem optado pela prudência e essa cautela é apoiada por países como Portugal.
Bruxelas quer, neste período de pausa de 90 dias, conseguir negociar com Washington, tendo já proposto tarifas zero para bens industriais nas trocas comerciais entre ambos os blocos.
Atualmente, 379 mil milhões de euros em exportações da UE para os Estados Unidos, o equivalente a 70% do total, estão sujeitos às novas tarifas (incluindo as suspensas temporariamente) desde que a nova administração dos Estados Unidos tomou posse.
Estas tarifas estão a aumentar os custos das empresas, a travar o crescimento económico, a alimentar a inflação e a aumentar a incerteza económica.
Cálculos da Comissão Europeia dão conta de que os novos direitos aduaneiros norte-americanos podem implicar perdas de 0,8% a 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA até 2027, sendo esta percentagem de 0,2% do PIB no caso da UE.
No pior cenário, isto é, se os direitos aduaneiros forem permanentes ou se houver outras contramedidas, as consequências económicas serão mais negativas, de até 3,1% a 3,3% para os Estados Unidos e de 0,5% a 0,6% para a UE.
Em termos globais, o executivo comunitário estima uma perda de 1,2% no PIB mundial e uma queda de 7,7% no comércio mundial em três anos.
ANE // MSF
Lusa/fim
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