Na denúncia que apresentou à Autoridade Reguladora para a Comunicação Social (ARC), Carlos Santos referiu tratar-se de uma "tentativa de censura ou de cerceamento da liberdade de imprensa e do direito fundamental de informar e de ser informado", além de acusar o partido de procurar condicionar a "garantia de independência" inerente à profissão jornalística.

O MpD já tinha apresentado, há cerca de uma semana, uma queixa à ARC contra Carlos Santos, alegando falta de imparcialidade e pluralismo na escolha de convidados, na condução do programa da manhã e, entre outros pontos, no conteúdo partilhado pelo jornalista no seu perfil pessoal no Facebook.

Carlos Santos afirmou que o secretário-geral do MpD "atinge o paroxismo do absurdo" ao atribuir-lhe convicções político-partidárias.

"Postei esse programa na minha rede social exatamente para dar contexto aos cidadãos interessados, permitindo-lhes ouvir o programa e inteirar-se do que estava o jornalista a ser acusado. Portanto, muito depois da divulgação do comunicado do MpD", esclareceu.

O jornalista acrescentou que o objetivo do partido foi sempre "crucificar o jornalista no altar erguido sobre o ódio dos seus militantes", através de um comunicado em que o acusa de violações éticas e deontológicas no exercício da profissão.

De acordo com Carlos Santos, o secretário-geral do MpD procura destruir a sua credibilidade, construída ao longo de mais de 30 anos e amplamente reconhecida pelos cabo-verdianos.

"Tudo porque o jornalista, agindo tal qual 'cão de guarda da democracia', resolveu submeter uma entrevista do presidente do partido e primeiro-ministro ao crivo de um jornalista comentador/analista", afirmou.

Entretanto, o conselho de redação da Rádio de Cabo Verde já reagiu à queixa apresentada pelo MpD contra Carlos Santos, considerando-a uma tentativa de condicionamento da atividade jornalística, marcada por apreciações subjetivas.

Carlos Santos, que já dirigiu a RCV por duas ocasiões desde 2006 e presidiu à Associação dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), publicou em 2017 o livro "O Megafone do Poder", no qual analisa a evolução da comunicação social no arquipélago e aponta fragilidades nas políticas públicas para o setor.

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) apelou à ARC, há quatro dias, para que assegure a proteção dos direitos e liberdades dos jornalistas, rejeitando a queixa apresentada pelo partido no poder.

Por sua vez, a AJOC expressou "total apoio" a Carlos Santos, classificando a queixa como uma "tentativa de intimidação e condicionamento da liberdade de imprensa". A associação assegurou estar vigilante a "qualquer tentativa de censura ou coação contra profissionais da comunicação social".

Marco Fonseca, diretor da RCV, reforçou o apoio a Carlos Santos, afirmando ter "total confiança" no trabalho do jornalista.

Tanto a direção da RCV como a AJOC consideraram que a queixa do MpD carece de fundamentos para avançar junto da ARC.

O secretário de Estado Adjunto para a Comunicação Social, Lourenço Lopes, declarou na semana passada que tensões entre jornalistas e organizações são normais em democracia, sublinhando que a legislação permite que partidos ou instituições que se sintam lesados apresentem queixas às autoridades competentes.

Para o governante, "nenhum jornalista em Cabo Verde pode dizer que tem interferência do Governo relativamente ao seu trabalho".

 

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