"Eu não concordo com isso (com a presença do Presidente francês e do governo no jogo), não deveriam estar lá. É bem óbvio que eles estão escolhendo um lado. É como se eles estivessem misturando política e desporto, o que talvez não deveriam", referiu Matteo, de 20 anos, americano a viver na França.
A manifestação que começou pelas 18:00 horas locais (17:00 em Lisboa) numa praça em Saint Denis, a apenas dois quilómetros do Stade de France, onde se realiza o jogo, reuniu cerca de 200 pessoas e membros do partido de esquerda radical que foram gritando por Gaza, pela Palestina, pelo Líbano, pelo fim do genocídio e o fim do fornecimento de armas a Israel por parte da França.
Muitos manifestantes mostraram-se muito relutantes em se expressar perante os muitos jornalistas presentes no local, recusando, por exemplo, fornecer a identificação, mas os que falavam mostravam a sua indignação para com a situação no Médio Oriente, com a qual consideram que a França está a compactuar.
"Não gosto que a França, onde nós vivemos, receba uma equipa, especialmente depois do que aconteceu em Amesterdão. Acho que não se pode realmente separar nada que a Israel faz do regime do Apartheid, mesmo no desporto", disse Matteo, de 20 anos, americano a viver na França.
A quantidade de polícia "nunca é justificada, é sempre demais e reacionário", afirmou o americano, referindo também "os helicópteros que são um gasto de dinheiro" desnecessário nesta situação.
"Eu posso imaginar acontecerem problemas após o jogo, especialmente pelo que aconteceu em Amesterdão na semana passada, mas eu acho que vai depender do que os fãs da Israel fazem", disse Caitlin, de 20 anos.
Segundo a jovem também americana a estudar em Paris, a manifestação estava programada inicialmente para ocorrer próximo do estádio, mas foi mudada pelo aparato policial, mas os manifestantes não "querem magoar ninguém", só querem chamar a atenção para a situação em Gaza.
Com dezenas de bandeiras da Palestina, outras do Líbano e alguns cartazes expostos denunciando o genocídio, a manifestação pacífica não teve forças de segurança, contrariando todo o aparato policial nas redondezas do estádio.
"Eu vim aqui com a minha filha de 16 anos, nós estamos aqui de forma pacífica, não estamos aqui para procurar uma luta, apenas para expressar a nossa tristeza, mais do que a nossa fúria perante o fato da inação dos países em geral, mas de países ocidentais, em particular, e do nosso país, a França, a pátria dos direitos dos homens, que não conseguem respeitar os direitos internacionais", disse à Lusa Aïcha, de 44 anos, descrevendo a situação como "vergonhosa".
Para a marroquina, que cresceu em França, a manifestação tem como objetivo denunciar a falta de inação perante Israel em competições desportivas, já que "desde o início da guerra na Ucrânia, há sanções que foram tomadas contra a Rússia".
"Temos o direito de criticar um Estado que comete um genocídio, e em nenhum caso é antissemitismo, temos, entre as pessoas que estão aqui connosco, a União Judia por a Paz (UJFP), por exemplo, muitos compatriotas judeus que se unem connosco e que protestam contra o que está a acontecer", afirmou Aïcha.
Além do apoio ao povo palestiniano, os manifestantes querem denunciar "a ideologia sionista, que é uma ideologia supremacista e racista", defendendo "numa primeira etapa, a solução para dois Estados", segundo a marroquina, que se considera francesa.
O deputado local Éric Coquerel, presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, denunciou o "genocídio" sofrido pelos palestinianos às mãos das forças armadas israelitas, perante os cerca de mil presentes.
Lamentou também que o Presidente francês, vários membros do governo e os antigos Presidentes François Hollande e Nicolas Sarkozy estejam também presentes no jogo, segundo os mesmos, para denunciar o antissemitismo.
Para Coquerel, esta presença oficial "vergonhosa" representa um apoio ao governo israelita de Benjamin Netanyahu.
"Os fãs israelitas não estão aqui para apoiar a sua equipa. Eles estavam aqui para provocar a humanidade, dizem palavras que não são aceitáveis. Eles estão de acordo com matar os filhos da Palestina", disse o recém-imigrado Abderrazak, de 32 anos, acompanhado da sua mulher e filha com apenas alguns meses, não querendo revelar a sua naturalidade.
Para Abderrazak, "o que está a acontecer na Palestina é contra a humanidade", defendendo que "os israelitas tentam destruir a humanidade".
Na rede social X, alguns manifestantes tentaram chegar perto do estádio mas têm sido impedidos pela polícia até ao momento.
De acordo com a agência France-Presse, mais de 600 apoiantes da comunidade judaica dirigiram-se ao Stade de France para o jogo de "alto risco" escoltados pela polícia francesa, mobilizou 4.000 polícias e pessoal de segurança à volta do estádio e mais 1.500 polícias nos transportes públicos, segundo o chefe da polícia francesa, Laurent Nuñez.
MYCO // RBF
Lusa/Fim
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