
O Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais da ONU "continua preocupado com as informações de que os estereótipos de género persistem e que a representação das mulheres em cargos superiores na administração pública e nas empresas privadas continua a ser insatisfatória"
"O comité está também preocupado com a menor taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho e a concentração de mulheres em profissões tradicionalmente dominadas por mulheres, contribuindo para o fosso salarial entre homens e mulheres", acrescenta o relatório, divulgado na segunda-feira, com as observações finais da ONU sobre o cumprimento do Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais na China, que inclui Hong Kong e Macau.
À Lusa, a antiga deputada da Assembleia Legislativa e docente universitária Agnes Lam afirmou que "há um 'teto de vidro' na sociedade de Macau".
O "teto de vidro" é uma metáfora geralmente usada para representar uma barreira invisível que impede a ascensão profissional para além de um determinado nível numa hierarquia.
"Apenas muito poucas mulheres conseguem chegar ao topo dos setores público e privado. Além disso, é mais comum que os subordinados discriminem frequentemente as mulheres em papéis de liderança", reforçou Agnes Lam, diretora do Centro de Estudos de Macau.
Até à data, nunca uma mulher ocupou o cargo de chefe de Governo de Macau. Apenas uma mulher integra o Governo composto por cinco secretários e somente existem cinco mulheres entre os 33 deputados da Assembleia Legislativa.
A atual deputada no parlamento local Wong Kit Cheng disse à Lusa que "a avaliação e afirmação do trabalho e das capacidades das mulheres pode facilmente levar à injustiça e fazer a sociedade sentir que o 'teto de vidro' ainda existe".
"Além disso, devido à baixa percentagem de mulheres na tomada de decisões públicas, as políticas e leis públicas são frequentemente consideradas sem a perspetiva de integração das mulheres e das famílias, o que dificulta o desenvolvimento da igualdade de género", acrescentou aquela que é também a vice-presidente da Associação Geral de Mulheres de Macau.
De acordo com a última base de dados das autoridades, de 2021, a proporção de mulheres em cargos de topo e diretores governamentais, membros de comités consultivos e responsáveis ligados à Justiça diminuiu em comparação com o ano anterior.
Nas estatísticas laborais, a proporção de mulheres a trabalhar como executivas e gestoras era de 37,8%, e a proporção de mulheres a trabalhar como profissionais qualificados era de 39,5%.
As mulheres representavam cerca de 44,3% do número total de funcionários públicos, e 41% do número total dos cargos de liderança.
O rendimento médio mensal de trabalho das mulheres foi inferior ao rendimento médio mensal de trabalho dos homens locais em cerca de 5% a 10% desde 2014, durante oito anos consecutivos.
Agnes Lam explicou que a desigualdade de género em Macau provém da divisão tradicional do trabalho e dos estereótipos de género. Tais como os "homens saem para trabalhar e mulheres trabalham em casa (...), as mulheres não se podem casar se estudarem muito" e as "boas mulheres sacrificar-se-ão pelas suas famílias", concretizou.
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