
"O programa 'Golden Dome ['Cúpula Dourada'] para a América' recentemente anunciado é profundamente desestabilizador", disseram Pequim e Moscovo numa declaração conjunta emitida pelo Kremlin (presidência) após uma reunião entre os Presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, realizada na capital russa.
O escudo antimíssil, inspirado no "Iron Dome" israelita, é um dos principais projetos da administração Trump na área da defesa. No passado dia 27 de janeiro, o líder norte-americano assinou uma ordem executiva na qual referia que o risco de um ataque com mísseis balísticos era "a ameaça mais catastrófica" que os Estados Unidos enfrentam.
Os dois países também anunciaram que pretendem aumentar a cooperação e fortalecer a coordenação para enfrentar a política de "dupla contenção" dos Estados Unidos.
A declaração conjunta, que também critica as aspirações do Ocidente de manter a sua hegemonia, foi assinada após negociações no Kremlin entre Putin e Xi Jinping, que se encontra em Moscovo para participar nas celebrações do 80.º aniversário da vitória do Exército Vermelho sobre a Alemanha nazi.
Moscovo e Pequim condenaram também a expansão de blocos militares, em particular da Organização do Tratado do Atlântico Norte ([NATO], na região da Ásia-Pacífico.
As duas partes "manifestam a intenção de alargar a cooperação e reforçar a coordenação com vista a contrariar com firmeza a política de Washington de 'dupla contenção' da Rússia e da China", referiu o documento.
A Federação Russa e a República Popular da China consideram que os planos de criação de infraestruturas militares pelos Estados Unidos e o Reino Unido na Austrália não farão mais do que provocar uma corrida ao armamento na região.
Vladimir Putin e Xi Jinping, aliados conhecidos do Irão, apelaram ainda a uma solução política para a questão nuclear iraniana com base no Tratado de Não Proliferação Nuclear, mas também no princípio do uso pacífico da energia atómica.
Por outro lado, apelaram igualmente à obtenção de uma solução negociada que tenha em conta as legítimas preocupações de todas as partes envolvidas no processo.
A declaração conjunta sublinha, em conformidade com a posição do Kremlin sobre a Ucrânia, que a segurança de um país não deve ser reforçada à custa da segurança de outro.
Este princípio de segurança indivisível tem sido o principal argumento invocado pela Rússia, que denunciou os planos de adesão da Ucrânia à NATO como justificação para a sua campanha militar no país vizinho.
Além disso, Rússia e China alertaram para a política antagónica de certos Estados e blocos, instando-os a pôr fim à ingerência nos assuntos internos de outros países, a deixar de minar a arquitetura de segurança internacional e a evitar a criação de divisões artificiais entre nações.
Quanto ao congelamento de ativos -- do qual a Rússia é atualmente alvo -- Moscovo e Pequim defendem o direito de tomar medidas de retaliação, ao abrigo do direito internacional.
Noutro sentido, a agência espacial russa Roscosmos e a Administração Nacional do Espaço da China (CNSA) assinaram um memorando para a construção de uma central elétrica na Lua, segundo informou o setor espacial russo.
"A central elétrica russa será um contributo importante para o projeto da Estação Científica Internacional na Lua, cuja criação está prevista para 2036", indicou a Roscosmos na plataforma Telegram.
Segundo a imprensa russa, que cita a Roscosmos, o memorando foi incluído no conjunto de documentos assinados hoje por Vladimir Putin e Xi Jinping e releva que a futura estação lunar será construída pela Rússia e pela China, países que irão realizar investigações científicas e testar novas tecnologias espaciais.
Após a assinatura dos acordos, Xi Jinping declarou ter mantido conversações "aprofundadas, cordiais e frutuosas" com Putin, sobre "numerosos temas importantes".
"Acabo de ter conversações aprofundadas, cordiais e frutuosas com o Presidente Putin. Chegámos a acordo sobre numerosos temas que são novos e importantes", afirmou o líder chinês.
No mesmo sentido, Putin afirmou ter mantido também conversações "muito produtivas" com o homólogo chinês, que permitirão "aprofundar" as relações entre Moscovo e Pequim, aliados face ao Ocidente, e aos Estados Unidos em particular.
"As nossas conversações decorreram num ambiente tradicionalmente caloroso, amistoso e construtivo, e foram muito produtivas", declarou Putin no final do encontro no Kremlin.
"Faremos tudo o que for necessário para aprofundar a cooperação" bilateral, acrescentou, indicando ter abordado com Xi Jinping temas como "política, segurança e relações económicas".
JSD // SCA
Lusa/Fim
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