Podem saber mais sobre esta história tão simples e tão real aqui e aqui.
Porque é que a Casa do Cais é importante?
São tantas as razões e nenhuma delas se resume ao “porque é giro”. A série tem mérito pelo arrojo do tema ou a qualidade técnica, sem esquecer as personagens com as quais nos relacionamos através de interpretações muito genuínas.
Sem a hipocrisia típica de quem defende a produção nacional, todos sabemos que, regra geral, nas séries portuguesas, o som e, muitas vezes, a iluminação, não são propriamente espectaculares… Esse aspecto surpreendeu-me de imediato na Casa do Cais, com uma realização moderna, despojada e muito bem articulada, uma qualidade de som que não obriga a aumentar o volume para acompanhar os diálogos ou a baixar o som durante o genérico, uma definição de imagem irrepreensível e uma dinâmica em cada episódio que nos fazia sempre querer mais.
A história, igualmente simples e directa, relaciona-se com cada um de nós de formas e em momentos diferentes, mostrando ou contextualizando muito do que a sociedade crítica, com um guarda-roupa e cenários interessantemente reais. A Casa do Cais (o apartamento) existe e é propriedade de duas das personagens, da mesma forma que a escolha do guarda-roupa foi dos próprios actores o que, em boa verdade, aumenta a responsabilidade, fazendo-me gostar ainda mais deste projecto.
Se a série vos passou ao lado, se não deram pela trend no Twitter (a hashtag #CasadoCais foi trend todas as semanas durante a exibição) podem ver os 11 episódios aqui e perceber de que estou a falar porque, em boa verdade, não se trata de uma produção com uma máquina de produção equivalente à de outras Casas que também resultam em trend, nem sempre pelos melhores motivos.
Esta Casa mostra a realidade de muitos jovens e, contrariamente ao que ouvi dizer, não é uma série de gays ou um exemplo de TV LGBT. A representação mediática da homossexualidade está muito limitada a actores que interpretam um papel recheado de estereótipos e conversas cliché. Na Casa do Cais pode haver muita coisa - inclusivamente o cliché - mas este escapa sempre ao óbvio, mesmo quando já imaginamos o desfecho da cena. Na Casa do Cais a narrativa integra e brinca com os estereótipos de uma forma tão inesperada que acabamos sempre a rir, afastando-se daquela TV-cliché que transforma a homossexualidade numa questão de conveniência social, abordando-a do ponto de vista da identidade individual. Porque é disso que aqui se trata: o direito a sermos quem somos e como somos.
Se é certo que a série não nos mostra todas as facetas da juventude ou consegue reproduzir todos arquétipos daquilo que são os jovens, mostra, no entanto, que a nossa opção sexual não pode (nem deve) interferir na forma como vivemos a nossa vida porque, em última análise, somos todos pessoas normais a viver vidas igualmente normais. Talvez umas mais boémias do que outras mas, ainda assim, o esforço é pela aceitação, porque os que encaixam nas categorias que a sociedade define nunca precisam de se preocupar em serem aceites por aquilo que são. Este é, sem dúvida, o plot da série que nos fez, a todos, independentemente da nossa idade, identidade sexual ou de género, sentir que estávamos, semanalmente, na Casa do Cais.
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