Fukushima foi em 11 de março de 2011: um terramoto seguido de tsunami causou 18.000 mortos naquela região setentrional do Japão. O tsunami danificou parte da central nuclear instada na cidade nipónica, os sistemas de segurança falharam e foi decretada na região uma zona de exclusão de presença humana por níveis inaceitáveis de radioatividade.

O Japão era até então a grande montra de promoção pelo mundo da energia nuclear. Mais de 30% da eletricidade consumida no gigante tecnológico que é o Japão tinha origem nuclear. Após o sobressalto de Fukushima a maior parte dos reatores nucleares japoneses está desativada e apenas 7,5% da eletricidade japonesa tem origem nuclear.

Por todo o mundo a enorme onda do desastre em Fukushima destroçou a reputação da tecnologia nuclear de produção de energia que já estava em retrocesso desde a catástrofe na central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.

Em Berlim, a chanceler Merkel anunciou logo a seguir à emergência de Fukushima que a Alemanha desligaria todos os reatores nucleares até ao final do ano 2022. Falta o máximo de 15 meses para o anunciado apagão e a Alemanha vê-se obrigada a ponderar a decisão tomada há 10 anos.

O cenário atual é, por cúmulo de fatores, de escassez energética. Perante a impensável escalada do preço do gás no mercado internacional, a Alemanha (que depende muito do gás russo) já decidiu retomar a capacidade máxima de produção nas centrais a carvão como energia para produzir eletricidade. Este recurso ao carvão, grande emissor de CO2, choca com o grande empenho alemão na promoção de descarbonização da economia.

A França tem 70% das necessidades em eletricidade asseguradas pela energia produzida em 18 centrais nucleares com 56 reatores. Em 2011, a Alemanha tinha convidado a França a aderir ao apagão nuclear. Agora, hoje mesmo, é o governo francês, através do ministro da Economia, Bruno Le Maire, a encabeçar um apelo onde se lê: “Para vencermos a batalha do clima e para conquistarmos independência energética, precisamos do nuclear”

Quando a Alemanha e vários outros países decidiram o apagão da energia nuclear contavam ter garantida a continuidade da sustentação das necessidades em energia elétrica através do gás natural e das renováveis.
Está a verificar-se que a instalação de sistemas de produção de energia renovável, limpa, por eólica e fotovoltaica não está a ser concretizada com a velocidade necessária para responder às necessidades do mercado.

O gás natural está com tão alta procura que já se fala de um choque económico com o gás natural semelhante ao do petróleo nos anos 70 do século XX.

Grandes produtores de gás natural, como a Rússia e a Argélia, aproveitam-se da crise para fazer subir a cada dia o preço do produto. A fatura da energia está, por toda a parte, a subir todos os dias e a fazer disparar o alarme económico e social. Os especuladores envolvidos neste mercado estão a obter grandes lucros à custa dos consumidores.

É assim que a energia produzida em reatores nucleares reentra na equação. É assim que o regresso ao nuclear (hipótese até aqui vista como um absurdo por quem clamou “Nuclear, não obrigado!”), volta a ser hipótese a ponderar.

A presença da energia nuclear na geração de eletricidade pelo mundo está há 25 anos em lenta mas continuada descida. O relatório World Nuclear Industry Status Report de 2021 atesta que a fonte nuclear tem descido desde o pico de 17,5% em 1996 aos 10,1% em 2020.

Estamos confrontados, em vésperas da decisiva COP26 com os complexos problemas da transição energética indispensável para salvar o planeta em emergência climática. Faz falta o debate sereno, sério, para encontrar as melhores soluções. Faltam-nos dados comparativos claros e rigorosos sobre danos e benefícios das diferentes fontes de energia.