
O aumento das direitas (a tradicional e a radical) deve-se a um desvio das classes trabalhadoras, tradicionalmente de esquerda, para a direita mais radical. As razões, aparentemente contraditórias, variam de país para país e é difícil encontrar um motivo diferente da explicação tradicional de que os imigrantes vêm “roubar” postos de trabalho.
Uma razão evidente é que a imigração tem aumentado exponencialmente nas últimas décadas, apesar dos entraves legais e hostilidade para com os recém-chegados.
na Dinamarca, a percentagem de “estrangeiros” passou de 150.000 em 2014 para 700.000 em 2024. Numa população de quase 6 milhões, isto significa que agora são 11% da população.. Na Alemanha, em 2023, entraram 329.000 imigrantes e hoje são cerca de 16.800.000, 28% da população - ou seja um em cada cinco habitantes é estrangeiro (mais ou menos)! Nos Estados Unidos, nos anos Biden entraram oito milhões, 60% dos quais ilegalmente. Atualmente, somando os imigrantes das últimas décadas vivem lá 47.800.000, o que dá uma percentagem de 14,3% da população norte-americana.
Contra-intuitivamente, um dos factores que impele pessoas de países pobres, que se tornaram menos pobres na última década através da globalização, é o aumento de qualidade de vida, que, por sua vez, dá acesso a melhores transportes e comunicações pela Internet mais fáceis. As redes de migração clandestinas estão mais sofisticadas e mais expeditas. Antigamente - digamos há uns 30 ou 50 anos - imigrar era extremamente difícil e perigoso. Hoje, vemos, por exemplo, que em Portugal, há cerca de 23.000 nepaleses, que tiveram de atravessar meio mundo para cá chegar. As rotas são várias, quando em 2000 não existia nenhuma e só havia dois nepaleses no país.
Os argumentos a favor e contra estas migrações são conhecidos. O primeiro é que vêm ocupar postos de trabalho; mas são postos que não existiam antes (Uber e Glovo, por ex.) e que os portugueses não querem fazer.
Outro é puramente racista e xenófobo: os imigrantes têm hábitos de vida diferentes e são de outra religião.
Inúmeros países têm desenvolvido políticas anti-imigração, na Hungria, Austria, Reino Unido, França, Itália, Paises Baixos e Suécia. Essas políticas são executadas por partidos de direita, que ganharam as eleições porque usaram todos os preconceitos dos cidadãos contra os imigrantes. Mesmo no Canadá, um país particularmente tolerante, o novo Governo, de centro-direita, conseguiu desalojar os sociais-democratas de Trudeau com este argumento.
Nos Estados Unidos, a principal bandeira de Trump foi a imigração e isso valeu-lhe os votos dos mais pobres e excluídos, que receiam a chamada “grande substituição” (“great replacement”) dos brancos pelos negros e latinos. Ou seja, chegará a um ponto em que a etnia que fundou o país será substituida pelas etnias tradicionalmente pobres e excluidas. As classes trabalhadoras, que tradicionalmente votavam à esquerda, numa lógica de ser contra os patrões, agora votam à direita para impedir a chegada de concorrência mais barata.
Enquanto os programas de direita são bem claros quanto a este objectivo, os de esquerda sentem-se num beco de saída; por um lado querem proteger os proletários do mundo inteiro, por outro não querem que esses proletários os substituam. Então os programas de esquerda são pouco claros e ficam-se por chavões com que os trabalhadores já não se reveem.
“Proletários de todo o mundo, uni-vos!” cada vez tem menos significado.
E as razões emocionais não param de crescer; já não é o medo de perder trabalho, é também a desconfiança por religiões e comportamentos diferentes. Isto aplica-se em particular aos muçulmanos, a segunda maior religião do mundo. Muitos ocidentais não gostam de ver as mulheres tapadas dos pés à cabeça, os homens a rezar ajoelhados de rabo para o ar, a segregação entre uns e outros.
É interessante que os países colonizadores começassem por olhar para os povos menos desenvolvidos, à luz ocidental, como fornecedores de mão de obra escrava - e quantos mais, melhor - depois, com o passo da história e o crescimento das economias, passaram a pagar salários mas davam-lhes os trabalhos mais degradantes e pesados, e agora querem que eles voltem para as terras aonde os foram buscar quando precisaram.
O facto, incontestável, é que os imigrantes são necessários, e não se vê um cenário futuro em que deixem de ser. A “luta de classes” pode ter acabado ou não, mas a “competição de etnias" tem muito futuro.
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