Hoje é a última noite em que o Oslo está aberto e não faltará assim tanto para chegarmos às últimas noites do Liverpool, do Viking, do Tokyo, do Jamaica e de todos os outros lugares pecaminosos e hediondos no Cais do Sodré. E ainda bem. Chega de depravação em lugares que podem perfeitamente passar a ser hotéis boutique com um café super fofo e instagramável onde todos poderemos – como é o nosso sonho colectivo – tomar um brunch delicioso cheio de abacate e ovo escalfado a escorrer deleitosa e sexualmente por cima daquela original tábua de ardósia. Fazem-nos falta mais sítios assim, nem tanto pela experiência em si, mas mais pelas milhões de instastories iguais que se podem criar.

E há outro ponto fulcral, o turismo (o que importa). É de loucos continuar a haver espaços de diversão nocturna, tanto para portugueses como para turistas jovens e depravados, quando podem ser hotéis para turistas mais velhos, com mais dinheiro e com necessidade de mais horas de descanso, coitadinhos. Quando muito, abrem-se ali umas quantas tasquinhas gourmet com tapas portuguesas sobrevalorizadas e antes da meia-noite vai tudo para a cama porque na manhã seguinte é para apanhar um tuktuk cedinho para ir ver Lisboa, aquela menina e moça cada vez menos lisboeta, mas cada vez mais bonita no Instagram estrangeiro.

Ainda ontem estive no Tokyo, por acaso. Gosto muito daquilo, boa música, boa gente, cerveja fresca. Mas para quê isso, quando pode ser mais uma sucursal de pastéis de bacalhau com queijo da Serra, mais conhecidos como codfish cakes with cheese of the Serra? Nós, os lisboetas que gostam de estar com os amigos nos bares, que gostam de conhecer pessoas novas na noite, que gostam de ouvir música e dançar, temos que ser menos egoístas e respeitar os investidores estrangeiros que estão a comprar Lisboa inteira e a transformá-la num parque de diversões (ligeiras, sem grandes alvoroços) gigante para adultos de meia-idade. Pode ser chato não termos dinheiro para pagar as rendas e termos que ir todos para fora da cidade, pode ser chato ficarmos sem os bares de sempre onde já tanto dançámos, bebemos, rimos e abraçãmos, pode ser chato ficarmos sem as tascas não gourmet com bitoques não servidos em cama de aveludado de batata doce, pode ser chato deixarmos de viver a nossa Lisboa, mas teremos sempre a satisfação de saber que o resto do mundo elogia copiosamente a cidade que cada vez mais é um montra gigante daquilo que outrora foi o sítio onde os lisboetas realmente viveram.

Venham mais hotéis e fechem os bares todos e, caso seja preciso, nós, os lisboetas, estaremos aqui disponíveis para fazer biscates como figurantes e irmos passear no centro quando os turistas começarem a achar estranho nenhum lisboeta viver em Lisboa.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Roda Bota Fora: O espectáculo de stand-up comedy com Diogo Abreu, Pedro Sousa, Daniel Carapeto, Guilherme Fonseca e Duarte Correia da Silva, vai ter mais 3 datas. Próximas terças-feiras no Teatro Ibérico.

- BecaBeca: O espectáculo d’ Os Improváveis, no qual sou convidado enquanto entrevistador, volta ao Teatro Villaret esta quarta-feira e desta vez vou entrevistar em palco a Inês Castel-Branco.

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