De alguma forma, a velha Europa acha-se sempre longe desses cenários que putativamente podem descambar em séries para a Netflix. Em Portugal, a incredulidade com o ataque na Escola Básica da Azambuja é legítima, mas levanta várias questões.

Se a criança que atacou os colegas era vítima de bullying, ninguém deu por isso? Ninguém da escola, ninguém em casa? Até que ponto estamos atentos à sanidade mental das nossas crianças? Se a criança vestiu um colete à prova de bala que existia em casa, isso significa que nível de premeditação?

Uma faca, muitos ferimentos, uma jovem internada com ferimentos mais graves, mas felizmente longe de perigo. O que se passa em Portugal? A banalização da violência não é de hoje. Muitas das séries que vimos, as notícias que consumimos, representam um manancial de agressividade e de atos desgovernados. Os estudos mostram que os mais jovens têm comportamentos violentos. As estatísticas sobre o namoro e as agressões dentro do registo amoroso na adolescência são aterradoras. E são referentes à realidade portuguesa.

O que leva um jovem a ir almoçar a casa, trazer uma faca e esfaquear quem se lhe atravesse no caminho, sentindo-se devidamente protegido por um colete à prova de balas? Talvez nunca tenhamos resposta, é um menor, a informação será certamente protegida.

E a mãe, professora na mesma escola, como fará a sua vida profissional futuramente? O que significa este ataque para a escola, para aqueles jovens?

Os psicólogos deverão estar atentos, lê-se nas notícias. Dito assim é esperançoso, não é? O problema é que a saúde mental em Portugal é um parente pobre, poucos profissionais disponíveis, sobretudo em instituições públicas. Um seguro de saúde tradicional paga uma média de seis consultas de psiquiatria, por exemplo. Seis sessões chegarão em alguns casos, noutros nem por isso. Diria que o “nem por isso” ganha.

Enquanto não debatermos com seriedade as questões da saúde mental, não iremos avançar, não iremos proteger as novas gerações ou manter as mais antigas com alguma qualidade de vida. Afinal, Portugal também é a América e os agressores existem e somos todos vítimas.