Em Portugal, o Twitter ainda não desempenha o papel político que tem, por exemplo, nos Estados Unidos. Trata-se de uma rede social que apela ao poder de síntese e, na política portuguesa, valoriza-se muito o encher chouriços. Apesar de tudo, recentemente alguns políticos têm tentado adaptar-se à concisão que o site exige. Porém, a verdade é que, numa boa parte das vezes, o que nos é apresentado acaba por ser concisa estupidez. Não me interpretem mal, eu acho que o Twitter é, com os seus defeitos, a melhor rede social para se debater política. Tenho é a ideia de que os políticos portugueses estão a mais.
Bom, não sei se foi exatamente aí que começou. Mas o recurso a um pequeno boneco digital de óculos para desvalorizar um acordo com a extrema-direita é só um dos exemplos em que o Presidente do PSD revelou a sua inteligência emoji-cional nesta rede social. Se efectivamente o PSD vier a ter um bom resultado nas próximas eleições (ou nas a seguir, ou nas a seguir às a seguir), não será certamente pelo brilhantismo e assertividade dos tweets do seu líder.
Esta semana, dois outros políticos acederam ao Twitter para dizer disparates. Um deles foi José Magalhães, deputado do PS que não pode alegar infoexclusão uma vez que terá sido um dos primeiros utilizadores da internet no nosso país. Numa resposta a um tweet, Magalhães teceu aquilo que aparentemente era uma insinuação sobre a frequência de espaços noturnos do eurodeputado Paulo Rangel.
Magalhães, perante a reação da esmagadora dos utilizadores que interagiram com a boca, disse que tinha feito uma “extrapolação virtual hipotética sem destinatário”. Indiferentemente do grau da maldade da intenção, se não estivermos na presença de uma tentativa de assassinato de caráter, estamos pelo menos a olhar para uma consumação de assassinato de 240 caracteres. Como não apagou o Tweet e terá ficado a ler as centenas de indignadas respostas, o único sadomasoquista terá sido mesmo José Magalhães.
O outro político a carregar precipitadamente no botão “enviar Tweet” foi o candidato a Lisboa pela Iniciativa Liberal, Bruno Horta Soares. O emergente utilizador de blazer com ténis decidiu homenagear os velhos tempos.
Na verdade, faltava à política portuguesa o discurso do revivalismo da subnutrição. Bruno Horta Soares é um homem coerente, uma vez que diz asneiras na televisão e faz shitposting no Twitter. Em todo o caso, não é uma situação fácil para a Iniciativa Liberal. Muitas vezes, os pequenos partidos têm menos capacidade de atrair candidatos interessantes capacidades. Mas se, à primeira eleição autárquica, a Iniciativa Liberal já está neste nível, para a próxima estarão mesmo a rapar o tacho com um salazar.
Como fica claro, há que tomar medidas. Proponho que seja criado um grupo de trabalho do Twitter na Assembleia da República e que daí surja, naturalmente, uma Comissão Desinstaladora. Combinado? Ainda bem. Podem voltar para o Facebook.
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