No congresso de Costa, não rezará a história, nem no primeiro, nem no último discurso do secretário-geral, nem sequer na proposta de revisão da organização do Estado, da descentralização. Ficou a estratégia para unir a Esquerda contra as sanções da União Europeia e para comprometer a Direita, que, nesta matéria, corre o risco de sair sempre mal na fotografia. E a comparação quase mórbida entre a morte de refugiados e os 0,2 décimas de défice. De resto, ficou Assis, e esse sim será recordado quando a realidade económica e financeira do país exigir uma resposta que o governo não poderá dar sem por em causa a sua própria existência.

António Costa, aliás, não falou de economia, foi uma espécie de fantasma que pairou sobre o congresso do PS. Simplesmente, porque os números não estão para festas. Preferiu centrar o discurso económico nas críticas à Europa por causa das sanções, sem perceber que é exatamente por causa do modelo de governo que arranjou. Portugal falhou o défice de 2015, acima de tudo o défice estrutural, que derrapou mais de seis décimas, responsabilidade do anterior Governo. Costa teria de apresentar um plano credível, a continuação de uma estratégia de mudanças e não de reversões. Prefere o "o vírus do radicalismo ideológico" anti-europeu, como diz Assis. No fundo, o estilo em relação a Tsipras é diferente, a forma não. E se a economia mantiver a tendência do primeiro trimestre, negativa, não vamos ter apenas um Retificativo, vamos ter a elevação a voz, nós contra eles. É fácil, é popular.

Francisco Assis olha para o passado, para o que o PS de Costa cedeu para montar a geringonça, e para o futuro, que governo é que o país precisa.

É preciso dizer que os primeiros seis meses de governação não mostraram assim tantas cedências deste PS ao BE e PCP, porque falam a mesma linguagem económica, ou quase. Quem controla quem? Mesmo na Europa, quando Costa diz-se europeísta, garante que o défice vai ficar abaixo dos 3% e, ao mesmo tempo, critica a austeridade europeia. Costa está confortável ao lado de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, e isso transparece.

Já sobre o futuro, a história é outra. Um governo com esta composição parlamentar, e a precisar dela para viver, não pode fazer o que o país precisa. Costa é pragmático, respira política, e apesar das suas convicções, fará as cedências que forem necessárias para segurar o governo. O ponto é outro, Portugal parou, e o investimento reflete isso mesmo. Quem pode investir, não acredita, lê os sinais, lê as medidas, e foge. A culpa, esta, não é da Europa.

Assis é um homem de coragem, sim, mais importante ainda, é um homem sozinho com (a nossa) razão.

As escolhas

Os suíços foram a votos, não para escolher um governo ou um presidente, mas para votarem em referendo. O quê? A atribuição de um Rendimento Básico Incondicional, uma espécie de rendimento mínimo, e a redução dos salários dos gestores públicos ao nível dos salários dos ministros. Em Portugal, se tal fosse referendado, a maioria seguramente apoiaria tais leis. Na Suíça, foram os dois chumbados. E com uma votação esmagadora. É uma lição. No primeiro caso, por mais bondosa que seja a intenção, os rendimentos incondicionais dão os incentivos errados à sociedade e os mais desfavorecidos têm de ser apoiados, não podem ficar para trás, mas de outra forma, a começar no regresso ao mercado de trabalho. No segundo, os gestores públicos têm de ser remunerados em linha com as práticas do privado, sob pena de sobrarem os piores a gerir os dinheiros públicos.

A CGD é um dos "berbicachos" do setor financeiro em Portugal, precisa de muito dinheiro, mais de quatro mil milhões de euros, e a Comissão Europeia exige regras para esse investimento público, comparáveis às que são impostas aos privados. Como não podia deixar de ser, apesar da retórica política que ocupou o espaço mediático. Em entrevista à TSF, a comissária da concorrência garante que essa decisão europeia não será política. Vamos lá ver então quanto é que isso (nos) vai custar.

Tenham uma boa semana