Pedro Sánchez, presidente do governo espanhol, cumpre a promessa de ação dialogante, tolerante, propositiva, valente e audaz e, na sexta 21 de dezembro (21-D), reúne o Conselho de Ministros do governo de Espanha num lugar emblemático no centro de Barcelona, a Llotja de Mar, atual sede da Câmara de Comércio.

Um dos ministros mais próximos de Sánchez deitou as mãos à cabeça quando soube da ideia e perguntou-lhe: “O que é que fazes se tiveres 25 mil manifestantes independentistas à porta?”. Sánchez afastou dúvidas e respondeu em público: “Comprometi-me com a realização de um Conselho de Ministros na Catalunha. Cumpro”.

O líder do muito minoritário governo socialista espanhol (em funções há seis meses, após a moção de censura que derrubou Rajoy, instalado com o precário apoio da esquerda radical Podemos e de partidos nacionalistas) está a apelar ao diálogo “sereno e sensato para construir entre todos, dentro da legalidade, a coesão de Espanha”. Insiste que é pelo diálogo que se resolvem os conflitos.

No independentismo catalão há quem não queira dar ouvidos a estes apelos e dispare insultos contra a ida do governo de Espanha à Catalunha.

Na Espanha tradicional, nacionalista, há quem já esteja a mostrar as garras por um presidente do governo de Espanha levar o Conselho de Ministros à cidade dos odiados independentistas. As três direitas espanholas (PP, Ciudadanos e Vox), em fase de convergência, que tem como mentor o ressurgido José Maria Aznar, estão prontas para se lançarem sobre Sánchez, perante a mínima concessão do governo ao catalanismo.

Pedro Sánchez joga nesta sexta-feira, 21-D, em Barcelona, muito do seu destino político. Vai tentar conseguir o que ainda ninguém conseguiu: apaziguar o polarizado confronto entre o nacionalismo espanhol e o independentismo catalão. A oportunidade, sendo muito, muito estreita, é extraordinária. Vale como exame de passagem para o estatuto de grande líder político. As possibilidades de o conseguir são, porém, escassas.

O problema começa por estar no lado do amplo mas muito estilhaçado independentismo catalão: há demasiados grupos e subgrupos que preferem o confronto e a rutura à exploração de pontes para compromissos que alguns dos líderes independentistas ousam, embora com ambiguidade, explorar. Há gente que não larga a fúria pela independência, já, e que se dispõe à via violenta. Será que os moderados vão conseguir liderar o lado independentista e procurar compromissos, aceitando a intransigência espanhola na recusa de independência?

As direitas espanholas que exigem mão dura com o catalanismo estão em prontidão para o ataque com intenção de derrube do governo da esquerda.

Entre os socialistas há quem tema que qualquer sinal de empatia de Sánchez com a sociedade catalã independentista faça inflamar o ansioso nacionalismo espanhol.

O 21-D é uma prova de fogo para Pedro Sánchez que também põe à prova o futuro dos muito frágeis equilíbrios entre Madrid e Barcelona. Sendo um dia crítico é, também, uma oportunidade. Há alguma esperança ao lermos a entrevista com uma figura principal do independentismo como é Oriol Junqueras, líder da Esquerda Republicana da Catalunha, preso há 13 meses, por defender a independência da Catalunha.

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Katovice, três anos depois de Paris: a COP não progride para salvar o clima e o planeta.

Há resistência na Hungria ao autoritarismo de Orban. Vê-se aqui.

Filmes do ano em escolhas nova-iorquinas: no The New York Times e na The New Yorker.

Uma visita ao ateliê de Miró.

Duas primeiras páginas escolhidas hoje: esta que chama a atenção para a estimativa de dois milhões de votos para a extrema-direita em Espanha; e esta que aponta o dedo acusador à Europa, que não esteve à altura na Conferência do Clima.