Ao contrário do Natal, que me provoca algum stress, admito, gosto de comemorar o Dia de Reis. O meu avô, que morreu há dez anos e isso parece uma coisa absurda e cruel, gostava de reunir a família toda. Éramos muitos. Depois ele morreu e passámos a ser poucos. Mesmo que sejamos família, por razões de afinidade ou de sangue, de certa forma deixámos de o ser.

Eu gosto dos Reis porque é sempre um momento de juntar alguns amigos, fazer a simpatia dos Reis (mezinha em que usa uma nota e três bagos de romã), a garantir que terei dinheiro para ter e para dar.

Gosto do início do ano, destes dias inaugurais, mas não padeço do pensamento mágico que assegura: tudo é possível, estamos prontos para abraçar uma versão melhor de nós mesmos ou dos outros. Deve ser a idade, já se sabe, mas é um facto que não alimento muitos desses sonhos e até deixei de fazer listas com intenções – todas boas – para o ano que começa. Para quê fazer planos? A piada reza assim: como é que fazes Deus rir? Fazes um plano.

Eu cá não estou para risos divinos, fico-me por aceitar o que acontece hoje e o que acontecerá amanhã, sabendo de antemão que a aflição desta quarta-feira estará decerto esquecida na próxima.

O mundo não está um sítio bonito para comemorarmos a vida. Porém temos essa obrigação, devemos celebrar e viver o melhor possível, porque é esta a vida que temos e não se repete. Quer isto dizer que não é um ensaio, não vale perder tempo, este dificilmente se recupera. O desalento e a tristeza têm o dom de sobressair, talvez por a alegria ser um músculo difícil de exercitar. Sinto que, como mãe, tenho essa obrigação, a da alegria, e, por isso, não adoptando o pensamento mágico, procuro momentos de bonomia, exemplos de coisas felizes – viver de uma forma leve, longe de quem promove a toxicidade e outras maleitas das quais não quero padecer. Não estou ainda na minha versão “chanti-chanti”, a queimar incenso e a escrever gratidão e luz em mensagens; não creio que vá chegar a tanto, mas acredito que é possível viver tranquilamente. E é possível parar. E dizer não. E mudar de planos. E dizer o que sentimos. E se tivéssemos mais capacidades socio-emocionais? Tornar-se-ia a vida melhor? Quase que aposto que sim. Posto isto, desejo-vos um bom Dia de Reis.