Se inicialmente a crítica temesse que Brunão se viesse a revelar uma série de consumo fácil para um público ávido de polémicas no futebol, os seus criadores foram surpreendendo episódio a episódio, edificando, com mãos de artesão, um verdadeiro marco no modo português de contar histórias. Totalmente fictícia e sem nenhuma ligação com factos reais, Brunão não perde pelo arrojo - alguns dirão falta de verosimilhança - da sucessão de plot twists absolutamente inebriantes que impõe aos seus espetadores, forçosamente boquiabertos a cada cena. Antes pelo contrário, é na falta de plausibilidade que reside o seu principal encanto.

Desde o despedimento de Marco Silva, à contratação de Jesusão, passando pelas polémicas publicações no Facebook contra todo o tipo de alvos, é verdade que as primeiras quatro temporadas não foram pobres em surpresas narrativas, mas foi efetivamente nesta última que a série alcançou a sua definitiva maturação. O (spoiler alert) episódio do Ataque dos 50 foi absolutamente arrebatador, desafiou todas as convenções formais e será estranho se não for estudado, num futuro próximo, como exemplo de como se escreve um guião irrepreensível para televisão.

As comparações com House of Cards são manifestamente lisonjeiras para com a produção americana, uma vez que, no caso da série que deixou de contar com Kevin Spacey, a realidade já ultrapassa, não raras vezes, a ficção. Brunão nunca deixa de ser interessante e empolgante. Todo o rol de ações autodestrutivas do seu protagonista pode muito bem ter sido a razão pela qual os gregos inventaram o conceito de húbris.

A construção de personagem em Brunão é primorosa, fazendo o espectador acreditar que pode mesmo (numa realidade alternativa, convenhamos) existir um dirigente desportivo tão descomedido, indelicado e incendiário como o protagonista. É notável o que se faz em ficção nos dias de hoje. E ficamos todos a pensar de como seria se isto tudo fosse verdade.

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