Semana após semana vemos o nacional populismo ganhar terreno. Não será caso para se falar de avançada do fascismo – os ideólogos do fascismo tinham discurso cuidado, elaborado. O que está a entrar é a instalação de ditaduras que chegam ao poder através do voto popular.

É pelo voto que se instalou o poder de Erdogan na Turquia – há uma semana, em discurso no parlamento de Ancara, a propósito do macabro assassinato de Jamal Khashoggi, o presidente da Turquia pronunciou a exigência de transparência e assumiu a pose de protetor dos jornalistas e da liberdade de imprensa, como se ele fosse um exemplo de respeito pelos direitos; não haja equívocos: o regime de Erdogan persegue cidadãos que discordam dele e ataca a imprensa independente com coação financeira e perseguições policiais. Erdogan aparece exemplar na exigência de apuramento de responsáveis pelo execrável crime político, mas, em matéria de liberdades, a Turquia é apenas um pouco menos sinistra que a Arábia Saudita.

Também foi pelo voto que Rodrigo Duterte instalou nas Filipinas um regime de terror que já promoveu milhares de execuções extrajudiciais. Consegue manter popularidade alta no país. Porque consegue convencer os cidadãos com a mentira de que a única forma de eliminar a ameaça do narcotráfico é através do assassinato de quem vive das drogas. É o regime em que “cada drogado morto é um drogado a menos”. As Filipinas têm 100 milhões de pessoas, Duterte quer livrar-se dos quatro milhões que diz serem consumidores do shabú, uma metanfetamina local com muito uso na região.

Também foi pelo voto que a Hungria e a Polónia caíram nas mãos de maiorias que limitam a liberdade e a independência da Justiça.

Também é em resultado do voto, maciço, que os italianos estão agora nas mãos de partidos soberanistas, populistas e antissistema, um mais à esquerda (Movimento 5 Estrelas), outro de extrema-direita (Liga). As sondagens sugerem que estas duas forças estão agora com ainda mais apoio popular. Convencem os eleitores com o modelo de democracia direta que dá às pessoas a ilusão de poder, e com a intenção de distribuir dinheiro pela população mais carente. Porém com riscos de colapso financeiro do Estado.

É dispensável caracterizar os modelos de Trump e de Putin, no poder, através do voto.

Agora, é o Brasil, com Bolsonaro como messias. Mudou o discurso, introduziu alguma abertura e compromisso democrático, na noite da eleição, mas a matriz que se ouviu na campanha é de exclusão vingativa de quem pensa diferente. O mundo de Bolsonaro reduz-se aos “cidadãos do bem” (com a Bíblia na mão) e a “gente do mal” (os vermelhos, os do PT). No Brasil que já está saturado de armas de fogo, Bolsonaro pretende instalar o direito de à posse e uso de arma. O caminho é o de tiroteios ainda mais intensos e generalizados?

Como chegámos a este triunfo da mobilização para medidas simplistas mas perigosas em países que antes cultivam a tolerância e a liberdade?

A corrupção não explica tudo. A crise económica oferece um enquadramento, mas também não chega.

Torna-se evidente que a democracia clássica da segunda metade do século XX, conservadora ou social-democrata, não está a saber cuidar os males da sociedade, que assim se volta para opções mais musculadas, mais fechadas, até intolerantes e agressivas.

O que é que instalou o sentimento de desconfiança e de não pertença? O que é que faz tanta gente sentir-se ignorada – e por isso estar radicalmente contra?

A resposta a questões como estas parece fundamental para que o declive em curso possa ser estancado e corrigido de modo a que possamos voltar ao triunfo da convivência aberta e tolerante.

VALE DAR ATENÇÃO:

O alerta para o ódio que está a envenenar os Estados Unidos da América.

O alerta para situação crítica em Itália.

Há quem alerte para o pior no Brasil.

Uma primeira página que retrata o estado a que chegou a coligação que tem governado a Alemanha.

Um regresso, em documentário, a Amy Winehouse.