Ter de ver, diariamente, debates (em que eles se levam a sério…) entre Tino de Rans e Marcelo Rebelo de Sousa, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Edgar Silva, Paulo Morais e Henrique Neto, Cândido Ferreira e Jorge Sequeira, e depois baralha e torna a dar para que todos se encontrem em igualdade de circunstâncias, tem qualquer coisa que anda entre a sitcom e o reality-show. São umas dezenas largas de horas de televisão sem qualquer sentido, na maioria dos casos sem conteúdo, entre pessoas que todos sabemos que não vão passar do primeiro domingo eleitoral. Numa absurda interpretação de equilíbrio informativo, os media alinharam nesta farsa, onde o critério não é jornalístico, é puramente aritmético e igualitário. Exactamente o contrário do que se pede ao jornalismo: escolha, hierarquia, relativização, análise e um sensato uso do tempo de antena.

Aquilo a que assistimos é a mais clara falta de bom senso e rigor. É colocar todos ao mesmo nível - uma falsidade -, e dar-lhes igual relevância, coisa que qualquer estagiário de jornalismo saberia que é, no mínimo, pouco criteriosa.

Aliás, ouvir os dez candidatos de olhos fechados é uma experiência fascinante, porque em segundos separamos o trigo do joio. Basta atentar na forma como falam. Usam sem qualquer pudor a expressão “quando eu for Presidente”, equiparam-se uns aos outros como se tivessem os mesmos percursos, confrontam-se militantes do mesmo partido (Henrique Neto e Maria de Belém, por exemplo) como se não fossem camaradas. Além da atitude previamente vencedora - alguém lhes ensinou, sabe-se lá porquê, que marketing politico é isso… -, resvalam frequentemente para áreas que não lhes dizem respeito, caso sejam eleitos, e que perigosamente revelam ignorância sobre os limites dos poderes presidenciais.

Assistir a este triste espectáculo remete-me para os primeiros anos da revolução, quando se levantava uma pedra da calçada e estava um partido politico lá debaixo, sempre disponível para governar. Mas há uma diferença substancial entre o ridículo de alguns desses momentos passados e o absurdo actual: é que nessa altura toda a gente se interessava por política e pelos caminhos que Portugal devia trilhar; hoje, vivemos a mais desinteressante campanha de que me lembro e corremos o risco de ter a mais alta taxa de abstenção de sempre. E isso não é apenas triste - é um falhanço do regime, num momento em que tanto precisamos de empenho e interesse. Não me espantaria se aparecesse um qualquer estudo de opinião que concluísse que esta overdose de debates contribui fortemente para a indiferença generalizada que por aí vai. Há pior, para quem quis igualdade de oportunidades e direitos iguais para todos?

COISAS QUE ME DEIXARAM A PENSAR ESTA SEMANA…

O brinquedo mais forte da minha infância foi indiscutivelmente o clássico Lego. Fui viciado em Legos, e passei essa paixão ao meu filho, que nasceu no momento em que, por força dos jogos de video e das consolas, a marca foi perdendo força e relevância. Felizmente, a primeira década do novo século trouxe uma nova vida à Lego, mercê de uma profunda remodelação no seu marketing, criatividade, produção de novidades, e alargamento a outras plataformas (incluindo o cinema). Hoje, a recuperação da Lego é um “case study”. Descobri um video onde se conta toda a história da empresa com amor, respeito, e bom gosto. Um documentário doce, este aqui…

Corre por aí que a plataforma Twitter está a preparar-se para abrir a sua janela à possibilidade de se escreverem até dez mil caracteres em cada tweet. Fico na dúvida: um twitter com twitões é ainda um twitter?

De vez em quando, Umberto Eco levanta a voz e ainda consegue surpreender-nos. Este artigo que publicou na edição especial da revista britânica “Prospect” tem dado que falar. Vale a pena ler…

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