A democracia liberal e o estado de direito levam a melhor sobre o fechado autoritarismo ultranacionalista na Polónia. É, por vontade dos eleitores, uma radical viragem no rumo polaco dos últimos oito anos.
Tanto a União Europeia como a Ucrânia estão a celebrar o resultado das eleições deste domingo na Polónia. Embora ainda não haja números finais, já há a garantia de que os partidos pró-europeus vão conseguir maioria para governar em Varsóvia, embora não esteja excluída a obstrução do presidente da república polaca, Andrzej Duda, muito alinhado com o PiS. Já se sabe que Duda vai começar por convidar o PiS para formar governo e que este partido ultra vai tentar aliciar deputados da oposição. É improvável que consiga. O encargo terá de ser a seguir confiado a Tusk.
Mas o presidente pode, através do veto, vir a limitar as reformas liberais (por exemplo, o direito da mulher ao aborto) pretendidas pela frente de oposição que agora se tornou maioritária.
O que estava em questão nestas eleições era a continuação da maioria ultranacionalista que há oito anos alinhava com a Hungria na restrição de liberdades e no boicote da solidariedade europeia, ou a viragem para uma maioria ativamente pró-europeia.
Os polacos votaram de modo maciço. A grande mobilização dos jovens e do eleitorado urbano está a ser apontada como determinante para a viragem política na Polónia.
O partido da Lei e da Justiça (PiS) que governou a Polónia nos últimos oito anos em via soberanista, hostil aos migrantes, aos direitos das mulheres, à independência da justiça e dos media, continua a ser o mais votado na Polónia. O voto rural contribui muito para que o PiS recolha à volta de 37% dos apoios. Mas ao perder sete pontos percentuais, deixa de conseguir controlar o parlamento. A frente de oposição liderada pelo centro-direita pró-europeu, encabeçada pelo ex-presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, passa a dispor de maioria absoluta.
A Polónia replica o atual cenário político de Espanha, com o partido mais votado (em Espanha o PP) a ficar por uma vitória insuficiente que o remete para a oposição.
O bloco que alcançou maioria nestas eleições apresentou-se aos eleitores como Coligação Cívica (KO). É uma coligação heterogénea de três partidos, com preponderância da Plataforma Cívica (PO), de Donald Tusk, posicionada no centro-direita. A coligação integra um outro grupo centrista, Terceira Via, e o partido Lewica, de centro-esquerda. Esta frente Cívica está creditada com cerca de 52% dos votos.
O que mais une estes três partidos na Coligação Cívica é o desejo de pôr fim a oito anos de deriva autoritária com o PiS. Têm em comum o desejo de pôr fim à tensão constante e braço de ferro com a União Europeia, o que implica acabar com a politização do sistema de justiça e o regresso a liberdades conquistadas com a liberalização da Polónia após o fim do bloco soviético em 1989.
A nova maioria também pretende acabar com o fecho da fronteira polaca aos cereais da Ucrânia, que tinha sido decidida pelo governo do PiS.
Mas dentro da Coligação Cívica há discordâncias sobre o acolhimento de migrantes de fora da Europa e a distribuição de dinheiros no orçamento que terá de ser preparado nas próximas semanas também vai expor divergências.
O PiS vai certamente tentar explorar divisões que abram brechas na nova maioria e que possam proporcionar ao presidente Duda argumentos para dissolver o parlamento e convocar novas eleições.
Para já, a Polónia volta a ser um país como a maioria dos outros na União Europeia. O húngaro Orbán perde o principal aliado para resistir às políticas propostas por Bruxelas.
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