1 - Aderir ao mote do primeiro-ministro, vestir um casaco hipster aos quadrados e de pele de carneiro, enfiar a boina do avô e dirigir-se ao campo para ficar ali, a olhar para quem está realmente a trabalhar.

2 – Regressar à capital e ir a um restaurante pan-asiático com os amigos publicitários. Queixar-se muito de que se os rudes campónios não limparem as matas, a culpa é deles se houver uma tragédia, pelo que têm de o fazer, e rapidinho, custe o que custar. Mais tarde no jantar, referir que acha um escândalo pagar seis euros por hora à empregada que vai lá três vezes por semana e que a criadagem de hoje em dia aburguesou-se.

3 - Assumir que adora o campo e que o campo o acalma e que precisa do campo e o que seria dele sem os ares do campo. Ir a Sintra e queixar-se de que com tantas flores é natural que não pare de espirrar.

4 - Pesquisar no Ciberdúvidas a diferença entre “sachola” e “enxada”. Recusar-se terminantemente a pegar numa foice porque a família da mulher ficou sem as empresas no PREC, “à pala desses comunas”.

5 - Receber o catálogo do Aki em casa e ler um poema de Alberto Caeiro. Sentir-se imediatamente legitimado para opinar sobre a vida campestre.

6 - Passar por uma nacional em Março e dizer coisas como “bem, isto aqui é mesmo o fim do Mundo”; “olha que giro, vacas” e “oh pá, nesta altura do ano ainda se pode mandar beatas pela janela, ou não? olha, de qualquer maneira, já foi”.

7 – Referir orgulhosamente que se tem raízes no campo porque o trisavô foi o 9º Barão de Mangualde, mas depois rejeitar consecutivamente as chamadas do primo agricultor que vive na quinta. A não ser que seja altura de partilhas, sendo que nesse caso até é capaz de enviar uma carta. Do advogado.

8 – Julgar que “mato alto” é um subgénero de cinema pornográfico franco-belga dos anos setenta.

9 – Convencer-se de que “Roçadora” é uma artista de funk brasileiro nascida em Mogi Mirim.

10 - Dizer casualmente num almoço de família, “Para mim, esta questão das matas tem uma explicação simples. Cada vez é mais difícil encontrar um bom caseiro. Hoje em dia, os servos somos nós, é ou não é verdade, tio?”

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Rei dos Leitões, Mealhada.

Esta série documental.